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2024: o ano da IA (e de um monte de outros hypes)

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(Imagem: TSViPhoto e Iuliia Bishop - Shutterstock / Google)

Inteligência artificial generativa. Realidade virtual. Computação quântica. Se você acompanha de perto novidades relacionadas a tecnologia, deve ter cansado de ler e ouvir esses termos. E vários outros, provavelmente. Em 2024, a tecnologia avançou. E avançou muito. Com 31 de dezembro logo ali, agora é um bom momento para entender esse avanço.

Para te ajudar a assimilar as mudanças ocorridas na tecnologia ao longo deste ano, o Olhar Digital conversou com dois especialistas: dr. Álvaro Machado, neurocientista e colunista do site; e Lucas Gilbert, especialista em tecnologia digital e CMO da Allu. Eles compartilharam suas percepções sobre os principais hypes de 2024.

2024 foi o ano da IA? Sim, mas não só…

Como esperado (e até adiantado pelo Olhar Digital nesta reportagem), 2024 foi o ano da popularização da IA. Pelo menos, este é o consenso entre os especialistas entrevistados. Mas hypes e avanços significativos ocorreram em outros, digamos, fronts da tecnologia também. Por isso, vamos por partes.

Inteligência artificial generativa

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Em 2024, a IA generativa ganhou contornos mais práticos (Imagem: Iuliia Bishop/Shutterstock)

Quando você lê “IA generativa”, esse termo quer dizer: algoritmos (redes neurais, por exemplo) que podem ser usados para criar conteúdo – seja em texto, áudio, imagens estáticas, vídeos, códigos de programação. Até 2023, isso era papo abstrato entre entusiastas e early adopters. Já em 2024, essa tecnologia começou a ganhar contornos práticos.

“Nós estamos naquela curva de adoção. A gente está começando a sair dos vanguardistas para, daqui a pouco, entrar na maioria. [A IA] ficou um negócio muito bom de usabilidade e está ganhando cada vez mais terreno. Então, muitas áreas que antes não percebiam muita utilidade para a IA começaram a usá-la.”

Lucas Gilbert, especialista em tecnologia digital e CMO da Allu, em entrevista ao Olhar Digital

Essa mudança ocorreu em meio ao “grande salto da IA generativa”, como descrito pelo dr. Álvaro. Para o neurocientista, essa evolução teve o que chamou de “quatro momentos”.

  • Grandes modelos de linguagem capazes de “raciocinar” (GPT e Gemini, principalmente);
  • Modelos de IA capazes de gerar vídeos;
  • Lançamento de pequenos modelos de linguagem (para rodar em celulares, principalmente).
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OpenAI lançou modelos de linguagem capazes de “raciocinar” para o ChatGPT em 2024 (Imagem: mundissima/Shutterstock)

Conforme explicado pelo colunista, os modelos capazes de “raciocinar” usam uma estratégia computacional chamada language of thought (“linguagem do pensamento”, em tradução livre) ou “chain of thought” (“linha de raciocínio”), a depender da linha teórica considerada.

“O chain of thought significa que o algoritmo não produz o resultado de uma vez só em bloco; ele produz o resultado em etapas”, diz o dr. Álvaro. “Ou seja, se você tem uma tarefa complexa, ele faz um primeiro pedaço e avalia recursivamente esse primeiro pedaço junto com o seu próprio prompt para produzir o segundo pedaço do raciocínio, o terceiro, o quarto, o quinto e assim por diante.”

Em relação aos modelos capazes de gerar vídeos, o neurocientista destacou o Sora, da OpenAI. Mas acrescentou que outras empresas lançaram ou estão em processo de lançamento dos seus próprios modelos do tipo (o Google, por exemplo). “Isso faz muita diferença porque mexe diretamente com a produção de vídeo de baixo custo, usada para redes sociais, testes pilotos para comerciais e roteiros curtos, por exemplo.”

Por fim, o colunista disse o seguinte sobre modelos pequenos: “Na prática, os celulares estão deixando de ser ferramentas de uso dogmático e se tornando ferramentas de uso inteligente. Essas funcionalidades precisam rodar dentro do celular, sem depender de um servidor remoto, porque a mágica delas é serem imediatas.”

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Senado aprovou projeto que regulamenta uso da IA no Brasil em dezembro de 2024 (Imagem: Marcos Oliveira/Agência Senado)

Também vale mencionar um avanço relacionado à IA no Brasil. No apagar das luzes de 2024, o Senado aprovou o projeto que regulamenta o uso de IA no país (relembre clicando aqui). Até a publicação desta reportagem, o projeto ainda precisava ser votado na Câmara dos Deputados.

Foram incluídas na classificação de atividades de “alto risco” questões como:

  • Identificação biométrica para reconhecimento de emoções;
  • Pesquisa policial para encontrar padrões e perfis comportamentais;
  • Auxílio em diagnósticos e procedimentos médicos.

O texto também estabelece regras no uso de conteúdo com direito autoral – por exemplo: a criação de um órgão regulador para facilitar a negociação entre autores e empresas de IA.

O dr. Álvaro comentou sobre o projeto aprovado no Senado na edição de 10 de dezembro do Olhar Digital News. Assista abaixo:

Armas autônomas

Avanços em IA generativa foram os que mais chamaram a atenção do público. Mas o dr. Álvaro considera outra mudança como a principal de 2024: o desenvolvimento de armas autônomas (e seu uso na guerra entre Rússia e Ucrânia).

Segundo o colunista, esperava-se uma grande reação ucraniana na segunda metade de 2023. Ela começou em outubro daquele ano, mas não vingou porque os russos tinham bons jammers de sinais. “Os jammers de sinais russos impediram os drones ucranianos de atravessar suas linhas frontais, atacar por trás e destruir ou abalar a estrutura das formações militares.”

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Desenvolvimento de armas autônomas foi a mudança tecnológica mais importante de 2024, diz colunista (Imagem: TSViPhoto/Shutterstock)

“Isso externalizou a importância de você ter drones autônomos porque a autonomia é justamente o que torna inútil o jammer de sinais, um embaralhador cujo objetivo é fazer seu controle remoto não funcionar.

Álvaro Machado, neurocientista e colunista, em entrevista ao Olhar Digital”

O colunista conclui este raciocínio da seguinte forma:

  • “A guerra da Ucrânia foi uma guerra que poderia ter sido ganha pelo lado ocidental se determinadas tecnologias tivessem chegado antes”;
  • “O que a gente vê desde então é um desenvolvimento fortíssimo de armas autônomas, inclusive as chamadas armas pequenas de baixo poder de impacto, como drones”;
  • “Isso está decidindo a geopolítica do mundo”.

Realidade virtual e aumentada (Apple Vision Pro, Metaverso…)

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Apple Vision Pro tem tela ultrawide de Mac (Imagem: Reprodução/YouTube/Apple)

Gilbert acredita que o metaverso começou a se tornar “um pouco mais real” com o lançamento do Apple Vision Pro, no começo de 2024 (relembre a aura do período clicando aqui). Ele explica que a Apple costuma popularizar tecnologias e, geralmente, só lança produtos quando a tecnologia “já está bem desenvolvida”.

O especialista em tecnologia digital reconhece que o Vision Pro não foi um grande sucesso, principalmente pelo alto custo. No entanto, vê o lançamento como um sinal de que a realidade virtual e o metaverso são o caminho para o futuro.

Para o dr. Álvaro, o lançamento do Vision Pro foi a estratégia adotada pela Apple para se posicionar num nicho de mercado dominado pela Meta (que também lançou modelos de headset neste ano). Relembre abaixo:

A empresa, segundo o colunista, buscou apresentar um produto de alta qualidade para firmar sua marca no segmento. Mas sem a real intenção de vendê-lo em massa, considerando seu alto custo. A ideia era “fincar o pé” e demonstrar superioridade em relação ao concorrente.

Ainda segundo o colunista, essa estratégia foi motivada pela necessidade da Apple de se proteger da Meta, que busca dominar o mercado de hardware para evitar depender de plataformas como o iOS (sistema operacional do iPhone).

Outro ponto importante: o foco do Vision Pro não é a realidade aumentada, mas sim a realidade virtual, proporcionando imersão total do usuário, explica o neurocientista. Ele aponta que o futuro parece estar na realidade aumentada, na qual se integra elementos digitais ao mundo real. E cita a parceria da Meta com a Ray-Ban como exemplo (agora os óculos têm até Shazam, traduções e IA ao vivo).

Computação quântica

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Chip anunciado pelo Google no final de 2024 pode revolucionar a computação quântica (Imagem: Google)

Quando 2024 se encaminhava para sua reta final e as principais novidades pareciam já ter sido divulgadas, o Google anunciou um chip capaz de revolucionar a computação quântica (relembre clicando aqui). Com isso, o tema – em banho-maria até então – voltou a esquentar.

Para entender a dimensão do lançamento do Google, é preciso saber o que é e como funciona a computação quântica. E o dr. Álvaro te ajuda a entender.

O colunista explica que a computação quântica, em sua essência, se baseia no algoritmo de Shor. Este algoritmo soluciona problemas de fatoração complexos, os quais levariam uma quantidade abissal de anos para serem processados por computadores tradicionais.

Machado destaca que um dos princípios mais importantes da computação quântica é o entrelaçamento quântico. Esse princípio, como ele explica, se baseia na relação entre duas partículas entrelaçadas: ao se descobrir o estado de uma, instantaneamente se conhece o estado da outra, independentemente da distância entre elas.

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Um dos princípios mais importantes da computação quântica é o entrelaçamento quântico (Imagem: Yurchanka Siarhei/Shutterstock)

A força da computação quântica reside na capacidade de entrelaçar múltiplos bits quânticos. Com um milhão de bits entrelaçados, a manipulação de um único bit implica na manipulação de todos os outros simultaneamente, resultando num poder de processamento exponencialmente maior.

No entanto, manter o entrelaçamento quântico é extremamente desafiador, pois a coerência entre as partículas é muito frágil. Machado compara o Universo a um ímã que interfere na coerência, tornando-a instável. Para preservar essa coerência, atualmente é necessário manter as partículas em temperaturas próximas ao zero absoluto, o que exige ambientes controlados e isolados (você pode se aprofundar clicando aqui).

Por isso, o grande avanço na computação quântica, segundo Machado, está em desenvolver técnicas para manter a coerência em condições mais próximas do ambiente natural.

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Novo chip quântico do Google corrige erros ao invés de impedir eles (Imagem: Google)

Em relação ao novo chip quântico do Google, o colunista explica o seguinte: em vez de solucionar o problema fundamental da manutenção da coerência quântica em condições próximas ao ambiente natural, o Google optou por uma abordagem mais prática – corrigir os erros depois que eles ocorrem.

“É um novo algoritmo de correção de erros. Correção de erros é uma gambiarra. Ninguém sabe como é que você, de fato, mantém a coerência em condições mais próximas do ambiente natural, porque talvez seja impossível.”

Álvaro Machado, neurocientista e colunista, em entrevista ao Olhar Digital

O colunista compara essa estratégia a “arrumar a casa bagunçada” em vez de “arrumar um jeito da casa não bagunçar”. E sugere que a dificuldade em encontrar um jeito da casa não bagunçar possa ser um obstáculo intransponível. “Talvez a computação quântica nunca se torne uma computação mainstream por causa disso.”

Roberto Spinelli – físico pela USP, com especialidade em Machine Learning por Stanford e pesquisador na área de IA – também comentou sobre o chip quântico do Google. Este foi o assunto da coluna “Fala AI”, do Olhar Digital News, na edição de 10 de dezembro. Assista abaixo o comentário do especialista:

A ver o que nos aguarda em 2025.

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