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Atividade cerebral dos cães indica que eles reconhecem os nomes dos objetos

Estudo quer provar que os cães são capazes de reconhecer os nomes dos objetos. Crédito: Javier Brosch - Shutterstock

Um artigo recém-publicado na revista Current Biology descreve uma descoberta fascinante em relação aos nossos melhores amigos, os cães. Segundo o estudo, eles são realmente capazes de reconhecer nomes de objetos.

A conexão entre uma palavra e sua representação mental é conhecida como “compreensão referencial”. Por muito tempo, acreditava-se que os cachorros não tinham essa capacidade. No entanto, esse novo estudo, conduzido por uma equipe de pesquisadores do Laboratório de Neuroetologia da Comunicação da Universidade Eötvös Loránd, em Budapeste, na Hungria, sugere o contrário.

A ideia de que os cães não podiam formar associações com a linguagem de forma referencial derivou de estudos comportamentais, nos quais eles eram solicitados a realizar tarefas de busca seletiva. Nesses experimentos, os animais geralmente não se comportavam de acordo com o esperado, levantando dúvidas sobre sua capacidade de compreensão referencial.

Você acha que os cães sabem os nomes de seus objetos? Crédito: New Africa – Shutterstock

Monitoramento cerebral dos cães por eletroencefalograma

“Em condições de laboratório, os cães se comportavam aleatoriamente, buscando o que pudessem pegar primeiro, embora seus donos afirmassem que sabiam os nomes dos objetos”, explica Marianna Boros, principal autora do novo estudo. Ela salienta que diversos fatores, como interesses individuais dos cães e distrações, podem influenciar o comportamento dos animais durante esses experimentos.

Para contornar a questão das distrações, sua equipe usou o monitoramento cerebral por eletroencefalograma (EEG) para verificar se os cães conseguiam entender as palavras passivamente. Em humanos, a leitura do EEG considerada um sinal revelador do raciocínio semântico é o efeito N400.

No experimento, os cães foram submetidos a EEG. Crédito: Oszkár Dániel Gáti

Lilla Magyari, também cientista da mesma equipe, conta que o efeito N400 foi inicialmente descrito em 1981 e tem sido replicado em numerosos estudos desde então, utilizando diferentes estímulos. “Normalmente, imagens de objetos são mostradas aos participantes, juntamente com palavras correspondentes ou não. A atividade cerebral medida pelo EEG apresenta diferenças distintas em cenários de correspondência e incompatibilidade”.

A equipe adaptou um teste N400 convencional para cães, alterando a ordem dos estímulos – as palavras foram pronunciadas primeiro, seguidas pelos objetos correspondentes ou não. Segundo Magyari, essa mudança foi realizada para aproveitar a expectativa dos cães de verem o objeto quando ouviam a palavra correspondente.

No experimento, os cães foram posicionados em um tapete com equipamento de EEG enquanto seus donos ou um experimentador pronunciavam frases que chamavam a atenção dos animais, como “Olhe! A bola!”. As reações cerebrais dos cães foram registradas através do EEG enquanto eles observavam objetos correspondentes ou não, apresentados após um curto intervalo.

A maioria dos cães apresentou uma resposta semelhante ao efeito N400 humano entre 200 e 600 milissegundos após visualizarem o objeto. A intensidade do efeito de incompatibilidade foi influenciada pelo grau de familiaridade dos cães com o objeto mencionado. Magyari ressalta que essa reação sugere que os cães têm expectativas em relação aos objetos, baseadas em suas representações mentais.

Evolução pode explicar discrepância de comportamento

Este estudo envolveu cães não treinados, representando uma população mais típica. Boros enfatiza que esses resultados indicam que a capacidade de compreensão referencial é inerente à espécie canina.

No entanto, a falta de desempenho dos cães em testes de busca seletiva levanta questionamentos. Boros sugere que essa discrepância pode ser atribuída à evolução da espécie canina. Desde a domesticação dos cães, há milhares de anos, eles foram selecionados para funções orientadas à ação, como pastoreio e caça, que não necessariamente estão relacionadas aos objetos.

Atualmente, os cães vivem em um habitat significativamente diferente, principalmente como membros de famílias em ambientes domésticos repletos de objetos e linguagem. Para Boros, essa mudança ambiental pode estar impulsionando a evolução das habilidades cognitivas dos cães.

Além disso, a natureza social dos cães pode influenciar sua preferência por interações humanas em detrimento de objetos inanimados. Boros destaca que os cães são animais extremamente sociais e que estão mais interessados em seus donos do que nos próprios objetos.

Os resultados deste estudo oferecem novas perspectivas sobre a compreensão referencial dos cães, sugerindo que essa capacidade pode ser mais difundida do que se pensava anteriormente. No entanto, a complexa interação entre a evolução da espécie canina e as influências ambientais ainda precisa ser investigada mais a fundo para uma compreensão completa dessas habilidades cognitivas.

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