[DIÁRIOS DA IA] A Arquitetura do crescimento com IA: Por que adotar não é suficiente

Instalar um chatbot ou uma ferramenta de automação não transforma uma empresa em nativa de IA. Adotar é diferente de se reorganizar arquitetonicamente em torno da tecnologia

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Imagem: ChatGPT/SC Inova.

Nos últimos anos, a inteligência artificial deixou de ser um experimento restrito a engenheiros para se tornar parte do dia a dia de milhões de profissionais. Segundo o relatório AI Adoption Trust Gap 2025, da Udacity, 90% dos trabalhadores já usam IA em suas rotinas. 

Parece uma vitória, mas há uma contradição: três em cada quatro abandonam a ferramenta no meio da tarefa. O motivo? Desconfiança.

A maioria relata baixa qualidade dos resultados, dificuldade em ajustar os prompts e incompatibilidade com seus fluxos de trabalho. Não por acaso, 45% dos profissionais não confiam em entregas feitas por colegas que usaram IA. Ou seja: adotamos, mas não acreditamos plenamente.

Esse paradoxo abre uma provocação central para líderes e empreendedores: o problema não é acesso, é arquitetura.

A FALÁCIA DA “ADOÇÃO”

Sangeet Paul Choudary, em seu ensaio “Você acha que prioriza a IA, mas provavelmente não é”, nos alerta contra o autoengano corporativo: dizer que se é AI-first sem repensar a lógica organizacional. É como quando a eletricidade surgiu — não bastava trocar uma máquina a vapor por um motor elétrico. Era preciso redesenhar toda a linha de produção.

Do mesmo modo, instalar um chatbot ou uma ferramenta de automação não transforma uma empresa em nativa de IA. Adotar é diferente de se reorganizar arquitetonicamente em torno da tecnologia.

O QUE REALMENTE MUDA COM A IA?

Quatro propriedades definem quando uma organização é, de fato, “nativa” de uma nova arquitetura:

  1. Redefinição da unidade de valor –  Em IA, a unidade deixa de ser o “projeto de IA” e passa a ser componentes reutilizáveis e governáveis: dados versionados como produtos, features/embeddings endereçáveis, prompts/skills parametrizados e decisões (scores, recomendações, classificações) expostas via API. O valor vem de recombinar essas unidades, não de iniciativas monolíticas.
  2. Integração das restrições como design – a IA não é perfeita, mas empresas que a internalizam como princípio (alucinações, probabilidades, incerteza) criam novos fluxos previsíveis.
  3. Reorganização dos sistemas – a tecnologia não é plug-and-play; ela exige revisão de organogramas, orçamentos e mecanismos de governança.
  4. Reformulação da competição – vantagem não vem da ferramenta mais avançada, mas de quem redefine o campo de jogo.

O CUSTO DA NÃO-TRANSFORMAÇÃO

O relatório da Udacity reforça esse ponto: as empresas estão atrasadas. 

45% não pagam por ferramentas de IA; quase metade dos profissionais recorre a soluções por conta própria; e 32% usam softwares não autorizados. Isso cria um “shadow IT” perigoso e revela que os colaboradores já correm à frente das políticas organizacionais.

Mais grave: a Geração Z, nativa digital, é a que mais domina a IA, mas também a mais crítica ao seu uso superficial. Para eles, não basta “usar”, é preciso usar bem. Essa pressão cultural tende a expor ainda mais as empresas que tratam IA apenas como acessório.

O CAMINHO PARA LÍDERES E EMPREENDEDORES

Empresas que desejam realmente destravar valor precisam superar a fase da adoção rasa. Isso significa:

  • Desenvolver fluência em IA: treinamento em prompt engineering, análise crítica de outputs e integração nos fluxos de decisão.
  • Redefinir processos: rever onde está a “unidade atômica” do negócio e como ela pode ser redesenhada pela IA.
  • Estabelecer governança clara: políticas de uso, critérios de qualidade e transparência com clientes e colaboradores.
  • Reorganizar o jogo competitivo: parar de medir eficiência com régua antiga e entender que a vantagem está na capacidade de redesenhar sistemas.

CONCLUSÃO: A CORAGEM DE REDESENHAR A ARQUITETURA EMPRESARIAL

Estamos diante do mesmo dilema que separou Blockbuster da Netflix: não se trata de quem tinha mais dados, mas de quem soube usá-los para reconfigurar a lógica do negócio. A confiança na IA não virá apenas de mais velocidade ou automação, mas da coragem de redesenhar a arquitetura empresarial em torno dela.

Empreendedores e executivos que entenderem essa diferença estarão prontos para liderar o próximo ciclo econômico. Os demais, mesmo cercados de ferramentas de IA, continuarão presos à lógica antiga — produtivos no curto prazo, mas vulneráveis no longo.

A Arquitetura do Crescimento mostra que resultados sustentáveis nascem do equilíbrio entre pessoas & cultura, processos & metodologias, tecnologia & dados, e modelo mental & liderança. O relatório da Udacity evidencia justamente que, quando empresas deixam de apoiar seus times com políticas claras e treinamentos em IA, criam um vácuo estrutural: colaboradores adotam ferramentas por conta própria, mas sem confiança ou alinhamento. 

Da mesma forma, como lembra Sangeet Choudary, não basta plugar tecnologia em processos antigos — é preciso reconfigurar a arquitetura organizacional em torno da nova lógica. Em outras palavras: crescimento real só ocorre quando propósito e visão integram esses quatro pilares, permitindo que a IA deixe de ser um experimento isolado e se torne parte do DNA da organização.

REFERÊNCIAS: 

  • Udacity. AI Adoption Trust Gap Report 2025. Udacity, 2025.
  • CHOUDARY, Sangeet Paul. Você acha que prioriza a IA, mas provavelmente não é. Platforms Substack, 2025

Fonte: SCInova / Por Eduardo Barbosa, CEO da Brognoli Imóveis e um dos responsáveis pelo Conselho Mudando o Jogo (CMJ) em SC e RS. Escreve sobre inteligência artificial no ambiente corporativo na série “Diários de IA”

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