Durante a Revolução Industrial, os canais navegáveis foram um símbolo de progresso. Reduziram custos, conectaram cidades e transformaram o comércio regional.
Até que as ferrovias chegaram.
No início, pareciam apenas “canais mais rápidos”. Mas quem as entendeu como sistemas de coordenação, e não apenas como infraestrutura de transporte, mudou o mundo. Hoje, vivemos um déjà-vu tecnológico com a IA agêntica — e muitos ainda pensam com a mentalidade dos canais.
A ARMADILHA DA EFICIÊNCIA
Os especialistas que vêm da automação tradicional — RPA, ERP, Lean, Cloud — seguem medindo sucesso em horas economizadas ou custos reduzidos.
Mas essa é a métrica errada.
A IA agêntica não é sobre automatizar tarefas, e sim sobre coordenar sistemas.
Assim como as ferrovias exigiram fusos horários padronizados e redes interligadas, a nova era da IA exige governança, padrões e arquiteturas compartilhadas — os trilhos por onde os agentes poderão operar de forma orquestrada.
Enquanto alguns ainda tentam “escavar canais digitais” para aumentar a eficiência, os líderes mais visionários estão construindo ferrovias cognitivas: estruturas que conectam fluxos, decisões e agentes em rede.
QUANDO A MENTALIDADE TRAVA A TRANSFORMAÇÃO
Nos anos 1990, empresas investiram bilhões em sistemas ERP apenas para reduzir custos administrativos. Enquanto isso, o Walmart enxergou o ERP como plataforma de coordenação com fornecedores e criou uma vantagem competitiva impossível de replicar.
Décadas depois, o mesmo ocorreu com a computação em nuvem: grandes corporações migraram para “baratear servidores”, enquanto startups como Netflix e Stripe reimaginaram a arquitetura de negócios a partir da nuvem.
A história se repete: a tecnologia é a mesma — o diferencial está na mentalidade de quem a enquadra.
DE EFICIÊNCIA A ORQUESTRAÇÃO
A IA agêntica redefine o próprio conceito de fluxo de trabalho.
Não se trata mais de perguntar “quais tarefas a IA deve automatizar?”, mas sim “quais fluxos de trabalho devem deixar de existir?”.
Em um sistema agêntico maduro, tarefas deixam de ser etapas lineares e se tornam nós em uma rede inteligente, capaz de resolver exceções, negociar entre si e agir em paralelo.
É o salto da execução para a governança — onde o valor não está na velocidade de uma tarefa, mas na qualidade da coordenação entre agentes, humanos e sistemas.
O MOMENTO FERROVIÁRIO DA IA
As ferrovias não foram apenas uma inovação mais rápida — foram uma revolução de sincronização. Elas exigiram uma nova camada de governança que sincronizasse relógios, mercados e cadeias logísticas.
A IA agêntica pede o mesmo: arquitetos de sistemas que desenhem o futuro da coordenação digital.
Líderes que criarem os padrões, as políticas e os trilhos cognitivos colherão os verdadeiros ganhos.
Os demais continuarão aprimorando canais que levam ao passado.
O BRASIL PRECISA PENSAR COMO FERROVIÁRIO
Em um país de empresas acostumadas à eficiência incremental, o desafio é cultural. Ainda medimos inovação em produtividade e ROI, quando o verdadeiro valor está em reconfigurar o sistema.
A transformação virá dos líderes que enxergam a IA não como ferramenta de substituição, mas como camada de coordenação de ecossistemas complexos.
No futuro das organizações, a IA não será um departamento, mas o tecido estrutural da própria empresa. Isso exige migrar de um modelo de crescimento baseado em eficiência para uma arquitetura de coordenação inteligente, onde fluxos, decisões e incentivos são redesenhados “AI by design”.
Em vez de adicionar algoritmos sobre processos antigos, o desafio é projetar estruturas que aprendem, se adaptam e se orquestram em tempo real — um sistema vivo onde humanos e agentes coevoluem. Empresas que fizerem essa transição deixarão de medir produtividade em horas economizadas e passarão a medir resiliência, sincronia e velocidade de aprendizado, os novos pilares do crescimento exponencial.
REFERÊNCIAS:
Fonte: SCInova / Por Eduardo Barbosa, CEO da Brognoli Imóveis e um dos responsáveis pelo Conselho Mudando o Jogo (CMJ) em SC e RS. Escreve sobre inteligência artificial no ambiente corporativo na série “Diários de IA”
Copyright © 2023. Todos os direitos reservados. Ascenda Digital Mídia LTDA.