Interoperabilidade de dados: uma nova fronteira para as cidades digitais

Startup catarinense SmartCityTec apresenta, no Web Summit Lisboa, plataforma open source que integra sistemas municipais e prepara cidades brasileiras para uma governança “smart”

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Na foto, os fundadores Gilsoni Lunardi (CTO) e Eloi Ronnau (CEO). / Crédito: agência SC Inova

Um dos desafios centrais da gestão pública digital é a capacidade de integrar os diferentes sistemas que produzem dados sobre o território — mobilidade, clima, obras, segurança, serviços urbanos, cadastro de imóveis, iluminação, entre outros. Esses sistemas, em geral, não “conversam” entre si, o que limita análises, dificulta planejamento e reduz a eficiência das políticas públicas.

Foi a falta de soluções para este problema crônico da gestão pública que levou à criação da SmartCityTec, startup catarinense que conecta, por meio de uma plataforma de interoperabilidade urbana, sistemas já existentes nas cidades e padroniza a troca de informações entre eles. 

Fundada por Eloi Ronnau (CEO) e Gilsoni Lunardi (CTO), a startup foi selecionada como uma solução de impacto e fez sua estreia internacional no Web Summit Lisboa, maior evento europeu de tecnologia e startups, que encerrou no dia 13 de novembro na capital portuguesa. A empresa passou dois anos desenvolvendo e validando sua tecnologia no Brasil e agora vem intensificando suas conexões internacionais.

Segundo o CEO Eloi Ronnau, a essência da plataforma é conectar, e não substituir, sistemas já existentes nas cidades: “primeiro nós trabalhamos o desenvolvimento de uma plataforma utilizando um framework europeu. Então já nascemos com o objetivo de ser uma plataforma interoperável em nível global. A plataforma se especializou justamente nesta conexão, fazendo com que os sistemas isolados funcionem todos juntos.”

O mercado brasileiro de dados urbanos interoperáveis ainda é emergente — o que representa uma oportunidade única: “Hoje o Brasil é um oceano azul. A própria palavra interoperabilidade ainda não se vende sozinha. É tudo muito novo. Somente em setembro o governo federal lançou oficialmente um canal e discussões de regulamentações. Estamos nascendo junto com o mercado”, afirma o CEO, que atua há mais de 30 anos no setor público e que foi um dos idealizadores e gestores do consórcio interfederativo CINCATARINA. 

A visibilidade nos eventos europeus deste mês atraiu o interesse de grupos técnicos, governos e empresas de diferentes países, reforçando o debate sobre interoperabilidade como tendência global.

PIONEIRISMO CATARINENSE

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Apresentação, em Barcelona, do primeiro projeto brasileiro de interoperabilidade de dados, o Smart Mafra. / Foto: agência SC Inova

Santa Catarina foi o primeiro estado brasileiro a aprovar uma legislação específica sobre interoperabilidade, e o tema começa a entrar na agenda regulatória nacional. No início de novembro, durante o Smart City Expo Barcelona, a SmartCityTec apresentou ao lado da prefeitura de Mafra (SC) e do governo do Estado, o primeiro projeto brasileiro de interoperabilidade alinhado integralmente ao framework europeu FIWARE. O Smart Mafra vai operar sobre uma plataforma completa e interoperável, capaz de conectar sistemas antes fragmentados e transformar dados públicos em inteligência operacional.

Segundo o CTO Gilsoni Lunardi, a solução brasileira surge dentro de uma comunidade global já madura. “A Europa já investiu mais de 100 milhões de euros nesse framework ao longo de 10 anos. Nós partimos desse ponto do desenvolvimento. Por ser open source, não é o conceito de levar sozinho, mas de gerar uma comunidade que às vezes até concorre, mas se ajuda”, ressalta o cofundador, que atuou por 13 anos como diretor do Consórcio de Inovação na Gestão Pública, que reúne 340 municípios. Além do Brasil, a startup já está expandindo o conceito para a América Latina, com projetos iniciados no Paraguai.

A partir do modelo de Mafra, diferentes equipamentos, sensores e sistemas municipais passam a seguir a mesma linguagem técnica, o que reduz custos de integração, permite análises mais consistentes, facilita o compartilhamento seguro de dados — crucial no contexto da Lei Geral de Proteção de Dados — e cria bases para aplicações mais sofisticadas de inteligência artificial. Esse aspecto exige também disseminar uma cultura de open data: “Somos evangelizadores de dados abertos”, resume Lunardi.

Fonte: Por Fabrício Umpierres, editor – scinova@scinova.com.br (ESP)

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