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[OPINIÃO] Empresas estabelecidas podem (e devem) aproveitar ao máximo os Ambientes de Inovação

Há um paradoxo nos ecossistemas de inovação do Brasil: as empresas estabelecidas, que são as que mais precisam inovar, são as que menos têm participado dos processos de inovação.

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Foto: FORTYTWO (Unsplash)

Henry Chesbrough, um dos principais especialistas em inovação, e criador do conceito de “inovação aberta”, já alertou que “A maioria das inovações falha. E as empresas que não inovam morrem.” Este recado é especialmente crucial para as empresas estabelecidas, que enfrentam o desafio de manter sua relevância e competitividade em um cenário de constante mudança. Curiosamente, o grupo das empresas estabelecidas é aquele que, historicamente, menos se faz presente nas dinâmicas dos ecossistemas locais de inovação, realizadas na sua maior parte nos habitats de inovação. 

Portanto, há quase que um paradoxo nos ecossistemas de inovação do Brasil, que precisa ser corrigido urgentemente: as empresas estabelecidas, que são as que mais precisam inovar, são as que menos têm participado dos processos de inovação dos ecossistemas, exatamente onde elas melhor poderiam encontrar respostas para garantir a sua competitividade em mercados que hoje têm concorrentes do mundo inteiro.

O trabalho para integrar e reter empresas estabelecidas aos ambientes de inovação deve ser uma atividade de todos os atores do ecossistema. Afinal de contas, o desenvolvimento econômico local depende muito do sucesso desses negócios. 

Outro ponto importante é fazer com que os gestores das empresas estabelecidas compreendam a importância de inovar constantemente. A partir do recado inicial deste artigo, mais do que trazer definições e conceitos de livros, é fundamental que esses executivos e executivas compreendam que o principal objetivo do desenvolvimento contínuo de inovações é garantir a competitividade das organizações. Ou seja, a inovação deve estar obrigatoriamente integrada às estratégias das empresas, sempre considerando que os concorrentes não estão mais apenas na sua região ou país, eles estão em todos os lugares do mundo. Mais do que uma questão de “estar na moda”, ou “aparecer para o mercado”, a inovação é, acima de tudo, fator crítico para a própria sobrevivência e para o sucesso da organização.

NEM TODA NOVIDADE É INOVAÇÃO

Nesse sentido, deve-se compreender também que toda inovação é uma novidade, mas nem toda novidade é uma inovação. As novidades que não trazem vantagem competitiva para a empresa não podem ser caracterizadas como inovações. Muitas vezes, as empresas percebem que estão defasadas em relação aos seus concorrentes e buscam trazer novos elementos tais como novos métodos, processos, softwares, equipamentos, etc. para reduzir essa defasagem. Tais ações, com o intuito de reduzir a desvantagem para seus concorrentes, podem até representar novidades para a empresa e são muito importantes, já que estão ligadas à garantia da sobrevivência da organização. Porém, como não criam vantagem competitiva, não podem ser consideradas como inovação.

Partindo-se, então, do pressuposto de que desenvolver estratégias de inovação não é algo opcional, as empresas precisam decidir como fazer isso. O modelo de inovação fechada, restrita às paredes e fronteiras da organização tornou-se muito caro, demorado e arriscado, pois nada garante que a empresa terá todos os recursos e competências necessárias para desenvolver seus projetos inovadores e nem que todos os projetos de inovação darão certo. Diante desse cenário, torna-se necessário abrir várias frentes de trabalho para o desenvolvimento de inovações, ao mesmo tempo, e com redes de parceiros. 

Como o conhecimento útil para o desenvolvimento de inovações está amplamente distribuído entre os diferentes tipos de atores dos ecossistemas de inovação, as empresas precisam orientar suas estratégias, táticas e ações para o modelo de Inovação Aberta. Nesse sentido, é fundamental que sejam desenvolvidas redes de parceiros com as competências e recursos necessários para criar as inovações que a empresa busca. A maior parte desses parceiros poderá ser encontrada na própria região onde a empresa está estabelecida, especialmente nos habitats, ou ambientes de inovação.

COMPREENDENDO OS HABITATS DE INOVAÇÃO

Antes de mais nada é importante entender o que é um habitat ou ambiente de inovação, e sua importância para os ecossistemas. De acordo com o material publicado pelo grupo de pesquisa VIA Estação Conhecimento, os habitats de inovação são espaços (normalmente físicos, complementados por tecnologias digitais) criados para proporcionar interações que gerem o desenvolvimento bem-sucedido de inovações. Trata-se, portanto, de espaços diferenciados que privilegiam o contato social entre pessoas que representam os diferentes tipos de atores do ecossistema local de inovação: empresas, academia, governo, etc. 

Nota-se que muitas pessoas têm dificuldade em compreender o conceito de ecossistema local de inovação, pois é algo abstrato por natureza, já que busca explicar os diferentes tipos de participantes e suas respectivas relações econômicas e sociais para que um território seja fértil para gerar empreendimentos inovadores. Por isso, um ecossistema não tem um local específico, ou uma organização que formalize todas essas relações, mas se pode perceber que os atores do ecossistema frequentam os Habitats de Inovação, de onde também tendem a surgir a maior parte das inovações de sucesso do território. Portanto, pode-se dizer que os Ambientes de Inovação são a principal forma de materialização dos seus respectivos ecossistemas. 

Fica aqui uma dica para o leitor: para conhecer melhor como funciona um ecossistema na prática, é importante frequentar um ambiente de inovação.

Os Habitats de Inovação podem ter diferentes formas, mas sempre proporcionam dinâmicas, eventos ou serviços que dão suporte para o desenvolvimento e o sucesso de empreendimentos inovadores. Podem ser menores, como uma incubadora ou aceleradora, ou maiores tal qual um Centro de Inovação ou até mesmo um Parque Tecnológico ou Distrito de Inovação. Independente do tamanho ou forma, os ambientes de inovação sempre têm como recurso chave o compartilhamento de conhecimento, estabelecendo relações para que os empreendedores tenham os riscos inerentes à inovação minimizados, ao mesmo tempo que se busca a maximização dos resultados. Além disso, nesses locais também é possível encontrar talentos, tecnologias, capital e outros recursos necessários para alavancar o potencial empreendedor e inovador.

Para atrair as empresas estabelecidas do ecossistema local, é importante que os habitats de inovação sejam especializados conforme as principais vocações econômicas dos territórios onde estão estabelecidos. De forma prática, é possível enxergar de forma clara que é mais fácil reforçar a competitividade das empresas de setores econômicos já estabelecidos na região por meio da inovação, do que criar um novo setor econômico a partir de empreendimentos inovadores. Além disso, ter um local especializado em desenvolver inovações para um determinado escopo de mercado dá maior clareza para que as empresas estabelecidas saibam onde procurar respostas para os seus desafios de inovação.

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“É mais fácil reforçar a competitividade das empresas de setores econômicos já estabelecidos por meio da inovação, do que criar um novo setor econômico a partir de empreendimentos inovadores. / Imagem: Kai Gradert/Unsplash

Importante destacar que, mesmo com bons habitats de inovação, com ações de suporte ao empreendedorismo inovador de qualidade, ainda haverá um índice considerável de inovações que não serão bem-sucedidas. Portanto, é fundamental que haja uma geração constante de um grande volume de desafios e de ideias de inovações, para que, nas etapas finais da jornada do empreendedorismo inovador, haja um volume significativo de inovações bem-sucedidas no mercado. É uma perspectiva de funil e a responsabilidade de abastecer as fases iniciais com um grande volume de desafios e de boas ideias inovadoras deve ser, principalmente, das empresas estabelecidas. 

De forma prática, há alguns exemplos de ações que empresas estabelecidas podem realizar (ou que podem participar) em Ambientes de Inovação. Primeiro, é possível realizar eventos ou oficinas para compartilhar desafios/oportunidades para o desenvolvimento de inovações, o que depois pode ser seguido por algum tipo de chamamento público para provocar a cocriação de ideias de negócios inovadores, envolvendo colaboradores da empresa e parceiros do ecossistema local de inovação. Para inovações que já estejam em fase de validação no mercado, é fundamental apoiar incubadoras de negócios inovadores e, para aqueles negócios que já estão com bom desempenho, chegando à fase de tração e escala de mercado, investir na aceleração de negócios inovadores. 

Além dessas ações com foco prioritário no desenvolvimento dos serviços de apoio ao empreendedorismo inovador, com foco nas necessidades, oportunidades e interesses legítimos da empresa, também é possível aproveitar outras oportunidades existentes nos Ambientes de Inovação. Nesses locais as empresas podem identificar novos talentos, encontrar eventos, oficinas ou cursos para capacitar suas próprias lideranças, e sempre buscar ampliar a sua rede de contatos (networking).

Por ser estratégica, a inovação precisa ter uma visão de longo prazo. Portanto, a participação das empresas nos Ambientes de Inovação também deve ter esta mesma perspectiva. Os gestores precisam garantir que as estratégias de inovação definidas se tornem táticas e ações efetivas, executadas de forma paciente e consistente também nos habitats de inovação. Para aqueles que esperam resultados de curto prazo, haverá muita frustração. Gestores impacientes acabam gerando ondas curtas de investimento e de paralisação da inovação, não trazendo os resultados importantes e necessários para a empresa.

Cabe destacar que a materialização dessas estratégias, táticas e ações nos Ambientes de Inovação é algo que exige vários recursos das empresas e, portanto, representará investimentos econômicos e financeiros. No entanto, já faz algum tempo que as políticas de inovação do Brasil, em nível Federal, Estadual e até mesmo Municipal, consideram recursos públicos para financiar ações em prol do empreendedorismo inovador. 

É importante que as empresas estabeleçam como prioridade o conhecimento com profundidade dos diferentes mecanismos de subvenção ou subsídio financeiro à inovação. Em nível federal, se pode mencionar a Lei do Bem, Embrapii, e Finep, entre outros. Mas também há Leis e Editais de apoio à Inovação promovidos por Estados e Municípios que precisam ser estudados. Boas estratégias de inovação aberta, realizadas por empresas que apoiam o empreendedorismo inovador para buscar desenvolver vantagem competitiva para os seus próprios negócios, precisam priorizar essas fontes de financiamento, pois podem trazer uma inteligência econômico-financeira importante para garantir a perenidade das estratégias de inovação, com retornos sobre os investimentos ainda mais interessantes.

Fonte: Por Marcus Rocha,  Especialista em Ecossistemas e Habitats de Inovação. Escreve mensalmente sobre o tema no SC Inova

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