[OPINIÃO] Talentos: o desafio das empresas – e das cidades

Um desafio cada vez maior à sociedade, seja na formação, na atração ou retenção. Mas como as cidades podem fazer seu papel, sem que universidades, empresas e governos trabalhem juntos? 

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Foto: Envato

Dias atrás fiz uma pequena pesquisa em meu Instagram sobre a percepção acerca da oferta de uma vaga de estágio em engenharia feita por uma importante indústria brasileira. O anúncio pede um estudante de engenharia praticamente formado, citando atribuições nada triviais em seu job description.

A bolsa ofertada: 

  • Pouco mais de R$ 1.300,00, para uma jornada diária presencial de 6h – em horário de aula, acrescido de auxílio transporte de R$ 110,00.
  • Em uma conversão rápida, são cerca de 250 dólares por mês.

Não me espanta ouvir que um dos principais desafios das empresas é a atração de jovens talentos, de cérebros, de gente com conhecimento, atitude e disposição para ir além, fazer mais e melhor, senso de dono, INOVAR!

Mas, e se aos 17 anos você estivesse estudando o mercado, pensando sobre seu futuro e considerando se dedicar 5, 6, 7 anos para se formar um engenheiro e visse esse tipo de anúncio, o que pensaria?

É estimulante? ou quem sabe não seria “mais fácil” aplicar para graduação EaD, trabalhar como assessor de investimentos, uber, pré-venda, tentar uma carreira de influenciador?
Não as cito de maneira pejorativa, mas são posições que não exigem cursar anos de cálculo, gestão de projetos e estudar sobre mecânica dos fluidos, além de 1 ano escrevendo e defendendo uma tese, para então se formar.

Segundo 34% dos meus amigos que contribuíram na pesquisa, a oferta faz parte da realidade, está OK. 

Mas eu DISCORDO, sei que empreender no Brasil é um desafio diário e que a cada dia fica pior, mas se não trabalharmos para mudar este cenário caminharemos para sermos um país prestador de serviços sem valor agregado, que depende do verão, do carnaval, das datas comemorativas e da boa colheita para subsistir. Nossa balança comercial tecnologia, de produtos de valor agregado seguirá sendo a TRAGÉDIA que é:

INDÚSTRIA BRASILEIRA MAIS TECNOLÓGICA TEM DÉFICIT COMERCIAL DE US$ 123,8 BI EM 2024, APONTA ESTUDO
A balança comercial brasileira tem registrado déficits cada vez maiores nas trocas internacionais de bens e serviços de alta e média-alta intensidade tecnológica, segundo estudo do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (IEDI)

fonte: IEDI

TEMA PEDE POLÍTICAS PÚBLICAS

É para cenários como este que os governos devem agir. Não adianta apenas conceder bolsa de 3, 5 anos para doutores irem à Espanha estudar a “dinâmica social das atividades esportivas“, se as indústrias têm dificuldade em pagar bolsas DECENTES para jovens talentos que estão empenhandos após cursar 3, 4 anos de uma graduação complexa – sem contar o filtro do vestibular/ENEM.

Um programa para estimular talentos que estão prontos para desembarcar no mercado de trabalho custaria pouco e teria grande potencial de resultados. Trazer as indústrias e levantar suas demandas por profissionais e firmar parceria para garantir a contratação, oferecendo bolsa adicional.

  • Um exercício rápido: 5.000 bolsas de R$ 1.500,00, por 12 meses – concedidas a estudantes em fase final de graduação e selecionados pelas indústrias, custaria: R$ 90 NOVENTA MILHÕES por ANO (!)

AH, MAS OS GOVERNOS NÃO TÊM RECURSOS…

Uma simples visita ao portal transparência mostra que temos MUITO recurso, mas que vão para o lugar errado, sem estratégia e compromisso com a sociedade e o futuro do país.

Apenas para oferecer uma referência de ordem de grandeza: a folha de pagamento mensal do Governo de Santa Catarina é de aproximadamente R$ 1,5 BILHÃO. Todos os meses, este é o custo da máquina pública de um dos menores estados do país.

Sem plantio, adubo e cuidado não há colheita (nem impostos).

Fonte: SC INOVA / Por Jean Vogel, presidente da Câmara de Smart Cities da FIESC

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