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Relações internacionais: principais eventos de 26 de maio à 1 de junho de 2024.

Israel bombardeia campo de refugiados em Rafah

No domingo, dia 26, um ataque israelense foi feito em um campo de refugiados em Rafah, matando 45 pessoas, dentre as vítimas estavam mulheres, crianças e idosos, muitas delas foram carbonizadas. As imagens foram divulgadas através das redes sociais, causando muita comoção e indignação mundo afora.

O próprio governo israelense se manifestou dizendo ter sido um “incidente trágico”, porém o fato fica ainda mais aterrador dado que as pessoas mortas estavam em um lugar determinado por Israel como uma região de área humanitária.

A reação mundial foi muito dura, inclusive dos aliados de Israel, mostrando um crescente constrangimento com Netanyahu e sua incursão militar à Rafah.

Na quinta-feira, dia 30, uma situação em particular chamou a atenção em Israel. A aliança de oposição em Israel, denominada Unidade Nacional (centro), liderada pelo ministro do gabinete de guerra, Benny Gantz, apresentou um projeto de lei para dissolver o Knesset (Parlamento), e convocar novas eleições no país. Tal ato demonstra que aumentaram as pressões à Netanyahu mesmo internamente.

É de destacar que Netanyahu sobrepõe seus interesses particulares, e precisa do conflito para ficar no poder. Entretanto, essa posição é muito bem fundamentada e cristalizada, sendo que seu partido, o Likud, dos 120 assentos do Parlamento, possui 64. Ademais, as eleições previstas para Israel estão marcadas para 2026 e tal gesto de Gantz parece que vai ser mais simbólico do que propriamente ocorrer.

Durante o dia 30, quinta-feira, o governo da Eslovênia reconheceu o Estado Palestina, processo que ainda deve ir ao Parlamento para aprovação. Tal fato é mais um marco simbólico na tentativa de pressionar o governo israelita a findar com o conflito.

Na sexta-feira (31), o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu autorizou uma proposta para um cessar-fogo de seis semanas em Gaza, anunciada pelo presidente norte-americano Joe Biden. Além desse ato, estão no plano proposto, e repassado ao Hamas através do Estado do Catar, a retirada das forças israelenses de áreas povoadas do território palestino e a troca de reféns por prisioneiros. O gesto fez com que o grupo Hamas visse a trégua como “positiva”, no entanto, o premiê israelita destacou que o conflito só termina com a “eliminação” política e militar do Hamas.

O governo brasileiro em decorrência do conflito e agravado pelo episódio, retirou o embaixador de Israel, Frederico Meyer em 29 maio de Tel Aviv. O ato é claramente político por reduzir a importância da representação do Brasil no país, destacando a insatisfação do Brasil com as políticas de Israel. Cabe destacar que tal gesto não significa uma ruptura completa das relações diplomáticas, cuja posição brasileira enfatiza também que as ações em Gaza violam sistematicamente os Direitos Humanos.

A proposta de um plano de cessar fogo é uma opção a curto prazo necessária, entretanto, haverá também que sejam feitas negociações mais duras com os envolvidos (Hamas e o governo israelense), que como é sabido são que menos têm interesse que a guerra cesse. De um lado um governo que para permanecer no poder deve manter o conflito e de outro um grupo terrorista cuja violência é sua fonte de existência.

Eleições presidenciais na África do Sul

Na quarta-feira (29) os eleitores sul-africanos foram às urnas para elegerem o presidente do país. O sistema eleitoral é diferente do nosso, haja vista que o eleitor vota para compor o Parlamento, que por sua vez, é responsável por escolher o presidente.

Marcada pela grande violência, o alto índice de desemprego, a corrupção e problemas em infraestrutura (com os constantes blackouts de energia), a África do Sul e o líder eleito tem enormes desafios pela frente.

A política local é dominada pelo Congresso Nacional Africano (ANC), partido este que venceu todas as eleições até hoje, desde o fim do abominável regime do apartheid, em 1994. Porém, os índices de votação conforme podem ser vistos na tabela a seguir, mostram um declínio na percentagem dos votos no Partido, mostrando que ele não está conseguindo mais dar continuidade ao legado deixado por Mandela.

Desta vez, entretanto, a maioria da população do país é composta por jovens, que não viveram durante o período do apartheid, compondo um problema adicional ao partido. Soma-se a isso o descontentamento com o governo em diversos aspectos, conforme citados anteriormente.

Os resultados das eleições, lançadas à mídia no domingo, 2 de junho, mostraram o baixo índice de votos obtidos pelo ANC, o menor desde que ascendeu ao poder. Será a primeira vez em sua história que o partido será obrigado a fazer alianças com partidos menores. Em alguns discursos, alguns partidos somente aceitam fazer desde que não seja com Cyril Ramaphosa à frente do poder. Entretando o partido, ANC, já confirmou a continuidade dele como presidente.Essa atitude mostra não somente que o partido enfrentou uma baixa popularidade, como também o representante máximo até agora, colocando mais pressão para os próximos dias no tecer dos acordos.

Em relação à política externa sul-africana muitos especialistas defendem que permanecerá a mesma herdada da época de Mandela. Uma política marcada pela neutralidade e pelo equilíbrio entre ser crítico ao Ocidente em certas questões, e, gerir relações comerciais e industriais como Alemanha por exemplo.

O Brasil possui relações diplomáticas com a África do Sul desde 1948, e ambos detêm diversos canais de diálogo em fóruns multilaterais. Além disso possuem uma intensa agenda bilateral em relação à defesa e cooperação. Ambos são membros do BRICS, que é uma organização intergovernamental com o objetivo de cooperação econômica e desenvolvimento formado por importantes economias emergentes. Tudo levar a crer que as relações entre os dois países seguirão com a mesma intensidade.

O resultado da eleição mostra a importância não somente do partido em se reciclar, mas que a nação como um todo se permita a novas ideias que vão surgindo. Além disso, o contexto mundial também vai se alterando rapidamente e consequentemente originando resultados diferentes do esperado.  Cabe saber se o presidente conseguirá tais acordos, assim como será sua governabilidade, em um país marcado cada vez mais pelos problemas de corrupção, criminalidade e desemprego.

Visita do secretário norte-americano Antony Blinken à Moldávia

A visita do Secretário de Estado norte-americano Antony Blynken na Moldávia ocorre duas semanas após ele estar na Ucrânia. Durante sua estada, prometeu ajuda de US$ 135 milhões ao país, para a segurança energética e combater a desinformação russa.

A República da Moldávia está localizada no leste europeu, com fronteira com a Romênia (Oeste) e Ucrânia (Norte, Leste e Sul). Em 1812 virou província do Império Russo, sendo que na 1ª Guerra Mundial acaba unificado com a Romênia (1918). Permaneceu assim até 1940, quando a U.R.S.S. de Stalin e a Alemanha de Hitler fizeram o Pacto Ribbentrop-Molotov, cuja divisão da Romênia fez essa região foi anexada ao domínio soviético.

Em agosto de 1991 veio a independência da Moldávia, antes mesmo da dissolução da U.R.S.S. Entretando, já no ano seguinte é travada uma guerra que durou 2 anos, entre os moldavos e a região separatista da Transnítria, cujo apoio russo veio à sua ajuda. É importante destacar que essa região se autoproclamou uma república, tendo sua própria constituição, exército, moeda e bandeira, entretanto nunca foi reconhecida pela comunidade internacional. É uma faixa de cerca de 3000km e detém cerca de 500 000 pessoas, cuja ligação econômica, política e militar é apoiada pela Federação Russa. Cabe destacar que cerca de 1500 soldados russos permanecem na região desde o fim do conflito até hoje, fato este que com o início do conflito da vizinha Ucrânia, aumentaram as tensões na região.

Em 2020 foi eleita como presidente Maia Sandu e dois anos mais tarde o país obteve o status de candidato à membro da União Europeia. A jovem líder moldava vem tentando uma aproximação com o Ocidente, e o contexto atual demonstra uma preocupação, basta analisar o que outra ex-república soviética, a Geórgia, está enfrentando com as ameaças russas.

Um ponto que se adiciona à isso, é a existência de um depósito de munição no vilarejo de Cobasna, na Transnítreia, um dos maiores da Europa do Leste, herança do período soviético. O acesso é dado somente à soldados russos e não se sabe ao certo o total de munições que existem no local. Ademais com o conflito na vizinha Ucrânia, a sombra de uma possível invasão assusta o país, cujo interesse dos russos podem estar atrás de movimentos antiocidentais e inviabilizar o caminho junto à União Européia (U.E.).

Com a ascensão de Sandu e sua aproximação com a U.E., fez crescer uma polarização política na região, tendo diversos protestos financiados pela oposição, como em setembro 2022, por exemplo.

Em março de 2023 os protestos pró russos foram contra uma lei que o idioma não deveria ser mais chamado de Moldova, como era durante o período soviético, mas como romeno. Segundo os pró russos era uma forma de se distanciar do legado soviético e da Rússia também.

Já em janeiro de 2024 o governo moldavo impôs novos direitos aduaneiros sobre importações e exportações da região separatista, irritando autoridades locais, que mencionam prejuízos para empresas e residentes da região. O governo moldavo está mais cauteloso, principalmente depois que em fevereiro deste ano, o governo da Transnitria apelou ao Kremlin por proteção, alegando aumento da pressão da capital moldova Chisinau.

        Tudo leva a crer, que juntamente com o que está acontecendo com a República da Geórgia, a região terá muita tensão por vir e a comunidade internacional precisa estar monitorando a situação. Ambos são locais que podem significativamente escalarem para um conflito como na Ucrânia, e a visita de Blinken demonstra que a Casa Branca está atenta para isso.

Donald Trump é condenado pela justiça norte-americana

Na última quinta-feira, 30 de maio, Donald Trump foi o primeiro presidente dos Estados Unidos a ser condenado criminalmente.

Respondendo a quatro processos principais, esse o menos grave deles, cuja acusação foi de utilizar o escritório de advocacia para silenciar um caso amoroso com a ex-atriz de filmes adultos Stormy Daniels. Deste modo, o escritório efetuou o pagamento de US$ 130.000 a atriz e em contrapartida a campanha política do ex-presidente reembolsaria a firma. Entretanto, o problema seria que Trump violou a lei ao falsificar registros comerciais, com o intuito de encobrir o pagamento feito a ex-atriz. Cabe salientar que o anúncio da sentença será proferido somente em 11 de julho.

A dúvida que paira é sobre o que vai acontecer com os eleitores indecisos ou aqueles que sempre pendem a um dos lados (democratas ou republicanos) de acordo com sua vontade. Não será de se admirar que em suas campanhas políticas, os Democratas se apresentarão como único, com um candidato sem condenações criminais, enquanto os Republicanos, defendendo que o presidente é genuíno e está sendo perseguido politicamente.

O que chamou a atenção na grande mídia, foi um Trump mostrando abatimento, dado que ele não esperava ser condenado. Alegando que o julgamento foi fraudado e vergonhoso, o ex-presidente vai apelar da condenação assim que possível, além de alegar que o” verdadeiro veredito virá nas eleições”. Entretanto, é de salientar que nos Estados Unidos o voto é facultativo e como ainda falta bastante tempo para a eleição é difícil qualquer prognóstico no momento. O certo é que o candidato da oposição Joe Biden não tem o carisma da população, tampouco a habilidade para explorar bem o timing da prisão a seu favor, porém vai usar por um bom tempo a narrativa de uma ex-atriz de filmes adultos sendo silenciada por um ex-presidente poderoso.

Dificilmente Donald Trump vai deixar de ser o candidato à presidência, cujos requisitos para concorrer no país são apenas três: residente há pelo menos 14 anos nos Estados Unidos, ser cidadão nato e ter pelo menos 35 anos. Não há dispositivo jurídico que proíba de ser candidato, porém cabe aguardar se sua acusação vai contribuir para ele perder eleitores significativamente, ou será o oposto, vencer a eleição com o argumento de ser perseguido politicamente.

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Escrito por Leonardo Dariva

Relações Internacionais

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Escrito por Leonardo Dariva

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