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Uma sacola plástica pode salvar uma mulher da violência: Michele Calliari Marchese idealizou o projeto "Mulher Segura"

Garantir mecanismos eficazes para facilitar a denúncia de violência de qualquer tipo a qualquer tempo
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Foi com esse objetivo que, Michele Calliari Marchese, 52 anos, casada, mãe, moradora de Xanxerê, idealizou um projeto inovador para ajudar a garantir a segurança das mulheres. Formada em Ciências Contábeis e atualmente concluindo o curso de Direito, ela detalha ao Portal Sou Catarina, os objetivos e as ações que integram o Programa “Mulher Segura”, que informa, por meio de sacolas plásticas disponíveis nos supermercados, canais úteis para que mulheres em situação de violência possam efetivar suas denúncias.

Michele busca liderar uma mudança geral de consciência e acredita que quanto mais a mulher tem conhecimento do que acontece com ela, mais segura se sentirá para poder denunciar qualquer tipo de abuso. Outra prerrogativa da profissional é vencer tabus sobre a cultura misógina de animosidade que coloca mulheres umas contra as outras. Michele almeja que o “Mulher Segura” contribua com outras medidas que visem à proteção, estimulem o debate e acolham a mulher que sofre calada e precisa expor a sua realidade para que o sofrimento possa ter fim. Ao final da entrevista, ela também indica leituras que podem contribuir no entendimento do assunto e estreitar ideias para que novas iniciativas possam surgir.

O Programa “Mulher Segura” foi desenvolvido com apoio institucional das seguintes entidades: ALESC (Assembleia Legislativa do Estado de Santa Catarina); ACIC (Associação Comercial e Industrial de Chapecó); CDL (Câmara de Dirigentes Lojistas de Chapecó); SICOM (Sindicato do Comércio da Região de Chapecó); CEC (Centro de Educação Chapecó); ACATS (Associação Catarinense de Supermercados); SOMAR OESTE (Sociedade Maçônica Regional Oeste); OAB/SC (Ordem dos Advogados do Brasil – Subseção de Chapecó); Prefeitura Municipal de Chapecó e OVM/SC – Observatório Estadual da Violência Contra a Mulher. Michele também destaca o apoio do Delegado Fernando Callfass como um dos maiores incentivadores do Programa.

Saiba detalhes sobre o lançamento do Programa e como cada pessoa pode ajudar a vencer essa luta, garantindo que cada mulher possa viver sem medo da violência ou de denunciar a quem for preciso.

A Polícia Civil de Santa Catarina por intermédio da Diretoria de Polícia da Fronteira (DIFRON) com sede em Chapecó, convida para a Cerimônia de lançamento do Programa “Mulher Segura”, no próximo dia 26 de agosto, às 19h30 no Centro de Cultura e Eventos em Chapecó. 

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Como surgiu a ideia de criar o projeto “Mulher Segura” e o que te motivou?
Em 2021, participei de um curso no Instituto Brasileiro de Ciências Criminais e na submissão do resumo de artigo, apresentei sobre a Violência contra as mulheres do campo, em virtude de ter assistido o documentário “Sozinhas” elaborado pelo Diário Catarinense em 2018, o qual demonstra como as mulheres nas áreas rurais sofrem de violência sem poder contar com vizinhos ou ajuda próxima, uma vez que as propriedades são distantes umas das outras.

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Durante aquele ano procurei conversar com mulheres da área rural, porém não consegui uma efetivação de entrevistas por diversos motivos e tive que modificar o tema do artigo, mas igualmente contemplando o assunto da Violência contra a Mulher.

Em um determinado momento eu pensei: por que fazer um artigo sem encontrar algum tipo de “solução” para essas mulheres que não tem como denunciar e não sabem como fazê-lo?
Ademais, mesmo que as mídias informem que a cada três horas uma mulher é estuprada, essa informação acaba por ser banalizada inconscientemente e vira uma propaganda como qualquer outra.

“A principal pergunta era: O que fazer para essa informação chegar aonde ela deve chegar, sem ser pela mídia? Foi então que surgiu a ideia da sacolinha de supermercado com as informações dos mecanismos de ajuda.”

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“O Projeto Mulher Segura visa informar que a mulher violada em seus direitos, pode buscar ajuda e que ela não está sozinha, contemplando uma maior informação de canais úteis, como o Disque 181, o QR Code e as Delegacias do município.”

A frase “Não se cale, denuncie!” pretende derrubar o mito de que “em briga de marido e mulher não se mete a colher”, porque em não denunciando, o agressor segue impune e a violência se estende a todo o núcleo familiar.

Como sua experiência pessoal e profissional moldou sua abordagem para lidar com a violência contra a mulher?

Todas as mulheres em algum momento de sua vida, ou em todos, sofrem de algum tipo de violência, seja ela de forma agressiva, psicológica, sexual, patrimonial. A grande verdade é que a mulher vive com medo, e comigo não é diferente. A misoginia acontece também entre as mulheres porque a cultura do patriarcado é essa: o desprezo e a objetificação da mulher em que obras literárias históricas são escritas por homens.

Penso que a questão da igualdade, liberdade e propriedade estão estritamente ligadas à figura masculina, enquanto que à mulher são impostos encargos de submissão justamente pelo longo caminho cultural enraizado na sociedade de que a mulher é uma “coisa”. Assim eu também me senti, como também me senti muitas vezes desprezada, humilhada pelo simples fato de ser mulher ou de ter que deixar a minha feminilidade de lado, ser menos feminina para ter algum tipo de “respeito”.

Como ocorreu a parceria com a Polícia Civil para implementar ele?

O Delegado da DIFRON/SC, Fernando Callfass era meu vizinho naquela época. Ele tinha a mãe dele que também cursava Direito e me perguntou como estava a faculdade, e foi aí que tomei a liberdade de apresentar meu projeto para ele. A parceria com as Delegacias é mérito dele, que apostou no projeto, deu o nome e fez todo o layout da Campanha.

“O Projeto Mulher Segura visa informar que a mulher violada em seus direitos, pode buscar ajuda e que ela não está sozinha, contemplando uma maior informação de canais úteis, como o Disque 181, o QR Code e as Delegacias do município.”

A frase “Não se cale, denuncie!” pretende derrubar o mito de que “em briga de marido e mulher não se mete a colher”, porque em não denunciando, o agressor segue impune e a violência se estende a todo o núcleo familiar.

Como sua experiência pessoal e profissional moldou sua abordagem para lidar com a violência contra a mulher?

Todas as mulheres em algum momento de sua vida, ou em todos, sofrem de algum tipo de violência, seja ela de forma agressiva, psicológica, sexual, patrimonial. A grande verdade é que a mulher vive com medo, e comigo não é diferente. A misoginia acontece também entre as mulheres porque a cultura do patriarcado é essa: o desprezo e a objetificação da mulher em que obras literárias históricas são escritas por homens.

Penso que a questão da igualdade, liberdade e propriedade estão estritamente ligadas à figura masculina, enquanto que à mulher são impostos encargos de submissão justamente pelo longo caminho cultural enraizado na sociedade de que a mulher é uma “coisa”. Assim eu também me senti, como também me senti muitas vezes desprezada, humilhada pelo simples fato de ser mulher ou de ter que deixar a minha feminilidade de lado, ser menos feminina para ter algum tipo de “respeito”.

Como ocorreu a parceria com a Polícia Civil para implementar ele?

O Delegado da DIFRON/SC, Fernando Callfass era meu vizinho naquela época. Ele tinha a mãe dele que também cursava Direito e me perguntou como estava a faculdade, e foi aí que tomei a liberdade de apresentar meu projeto para ele. A parceria com as Delegacias é mérito dele, que apostou no projeto, deu o nome e fez todo o layout da Campanha.

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No ano passado, o projeto teve início em Xanxerê. Qual foi o seu sentimento ao ver em prática aquilo que você idealizou?

Sentimento de esperança e de que falta muito pouco para que as mulheres deixem de lado a cultura misógina de animosidade entre elas (como quando a mulher agride a amante do marido).

“A sororidade também consiste no saber e vivenciar o que a outra vive. Mas meu maior sentimento naquele momento foi de esperança e de quebra de paradigma cultural.”

Quais foram as devolutivas que você recebeu em relação à iniciativa?

Geralmente acesso o Observatório da Violência contra a Mulher em Santa Catarina, mantido pela Alesc, onde aparecem os dados que são colhidos nas Delegacias quando das denúncias. Porém a cifra oculta da violência não é considerada, já que muitas mulheres não denunciam, sofrem caladas.

Não tenho como saber se a Campanha aqui em Xanxerê teve um resultado positivo, mas creio que a informação sempre é válida. Quanto mais a mulher tem conhecimento do que acontece com ela, mais segura ela fica para denunciar abusos.

Como você se sente sabendo que agora o projeto está tomando proporções ainda maiores e chegando até outros municípios e entidades?

Me sinto honrada. O Estado de Santa Catarina tem diversas iniciativas para a informação, cuidados e prevenção às mulheres vítimas de violência. De iniciativa em iniciativa, acredito que as mulheres se sintam mais empoderadas e seguras de si e possam auxiliar outras que necessitem de apoio.

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Em sua opinião, qual é o maior desafio na conscientização e prevenção da violência contra a mulher hoje em dia?

O rompimento da cultura milenar de submissão da mulher, porque envolve história, religião e muita misoginia.

Na sua visão, como o programa “Mulher Segura” pode ajudar a mudar as percepções culturais e sociais que perpetuam a violência contra a mulher?

A Campanha “Mulher Segura” auxilia com mecanismos de ajuda às vítimas, aos vizinhos das vítimas e aos desconhecidos da vítima. Quanto às mudanças nas percepções culturais e sociais, o caminho é longo, visto que são séculos de machismo e misoginia enraizados na sociedade por meio da religião, da história que é contada (por homens) em detrimento à história que é contada por mulheres

“Comentei acima que a máxima retrógrada: “em briga de marido e mulher não se mete a colher” e muitas outras frases de abandono, omissão e desprezo estão ainda muito presentes em nosso dia a dia e eliminar definitivamente essa (in)cultura leva muito tempo, acredito nas gerações futuras.”


Quais são as suas expectativas para o futuro do programa “Mulher Segura”?

“Minha expectativa é que o Estado de Santa Catarina abrace a causa na prevenção e combate à violência contra a mulher e seja um exemplo para o país.”

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DICAS DE LIVROS da Michele sobre o tema da violência contra mulher:

A Criação do Patriarcado, de Gerda Lerner.

Feminicídio, uma análise sociojurídica da violência contra a mulher no Brasil, de Adriana Ramos de Mello.

A mulher delinquente, de Cesare Lombroso.

Eunucos pelo Reino de Deus, de Uta Ranke-Heinemann

Criminologia Feminista, de Soraia Mendes

Se você conhece alguém que sofre violência, ajude a denunciar pelo telefone 181, 190, pelo WhatsApp (48) 98844 0011 da Polícia Civil de Santa Catarina ou pela Delegacia Virtual

Fonte: Sou Catarina

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