Evento no Norte catarinense debateu questões éticas, humanas, tecnológicas e apresentou inúmeros projetos envolvendo grandes empresas, startups e universidades.
A rápida adoção da Inteligência Artificial em menos de dois anos, ainda que forma um tanto caótica e sem freios, tornou a tecnologia o grande assunto dos nossos tempos. Aproveitar o momento para trazer centenas de executivos, profissionais, estudantes e entusiastas de tecnologia e inovação para debater diversos temas correlatos à Inteligência Artificial foi o propósito dos organizadores do 1o. Summit de IA, promovido pela empresa de tecnologia Q.Assist, em parceria com o Ágora Tech Park e o Join.valle (entre outros parceiros e apoiadores), na quinta, 04, em Joinville.
“Criamos o evento praticamente inteiro com o uso da IA em pouco mais de dois meses”, disse ao SC Inova o organizador Dieter Borgert, CEO da Q.Assist. “A ideia surgiu durante uma palestra minha no TEDx em São Paulo e me sugeriram transformar o conteúdo em um Summit, então fomos à luta”, completa.
Com mais de 580 inscritos, o evento lotou o Ágora Tech Park, levando pitches de startups, 6 workshops práticos e 14 palestras que abordaram desde dicas básicas do uso da IA (como resumo de grandes dados e insights a partir de relatórios e outros documentos) a temas complexos como aplicação da tecnologia em finanças, saúde, smart cities, além de questões éticas sobre uso da IA, especialmente nas profundezas da deep web.
Na abertura do evento, ao contextualizar a revolução que vivemos nesta década, Dieter lembrou: “na década de 80 era obrigatório ter um curso de datilografia para você entrar numa empresa. Logo depois, você precisava ter um cursinho de informática. Aí chegou outubro de 22, e a OpenAI fez o que o Google fez em 2004: colocou uma tela branca com um espaço para você digitar e fazer qualquer pergunta. E todo mundo começou a ter acesso à inteligência artificial”.
Murilo Silva, membro de comitê internacional de IA e CEO da startup fuse.io, abordou uma das questões mais críticas do uso da IA: o que está sendo criado artificialmente na deep web, a “Internet profunda”. “O que eu mais tenho medo é que a IA está sendo muito mais treinada e desenvolvida na deep web, onde não existe nenhuma regulação, do que na internet “tradicional”.
Ele citou o exemplo de vídeos de IA (inclusive “produções adultas”), que poderiam conter conteúdo criminoso se fossem feitos com pessoas reais – o que não se aplica, por se tratar de IA. “E se for um vídeo adulto que contém crianças? É crime ou não é? Não tem corpo. E a pessoa que consome esse tipo de material, é pedófila? Não tem pessoas ali de verdade, foi uma inteligência artificial que criou. Não tem nenhuma lei, não tem nenhum código de ética, não tem filosofia. Estamos muito longe de ter isso de verdade regulado, de forma segura como a gente precisa ter”, comentou o palestrante.
Com mais de 40 milhões de brasileiros usando IA generativa para trabalho, estudos, ou mesmo diversão, é preciso desde já conscientizar a população sobre os riscos e potenciais desta tecnologia disruptiva, defendeu no evento o empreendedor e educador Luciano Sathler, fundador da startup CertifickEDU.
“A IA tem uma série de problemas, ela erra, alucina, pode ter vieses ruins, então além da conscientização, é preciso desenvolver competências para as pessoas usarem IA de forma que elas criem suas próprias inteligências artificiais. Esse é o caminho, cada país, empresa, pessoa ter a sua IA. Se ficarmos na mão das big techs, a soberania nacional corre riscos, é o que se chama de colonialismo de dados”, explicou.
Fonte: Por Fabrício Umpierres, editor SC Inova – scinova@scinova.com.br
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