urante anos, repetimos o mantra de que empresas tradicionais fracassam por serem lentas.
Atribuímos o sucesso das startups à agilidade, à cultura “lean”, à velocidade das entregas. Mas o que Sangeet Paul Choudary revela em A Falácia do Lento Incumbente é algo muito mais profundo — e desconfortável.
“Os titulares geralmente não falham porque se movem lentamente. Eles falham porque se movem rápido na direção errada.”
Essa frase desmonta a narrativa confortável do “falta de velocidade” e aponta para um erro estrutural: as empresas confundem movimento com progresso, e eficiência com reinvenção.
VELOCIDADE ERRADA É APENAS UMA FORMA ELEGANTE DE SE PERDER
O caso clássico — Adobe versus Figma — mostra o contraste entre adaptação operacional e reinvenção arquitetural. A Adobe fez tudo certo: migrou para a nuvem, adotou assinaturas, atualizou KPIs e se tornou símbolo da transformação digital. Mas permaneceu presa ao paradigma do arquivo — a unidade de trabalho herdada da era do desktop.
A Figma, por outro lado, redefiniu a unidade de trabalho. Em vez de arquivos isolados, passou a operar com elementos interconectados — botões, componentes, bibliotecas compartilhadas. A inovação da Figma não foi uma feature ou um “canal novo”, mas uma mudança na arquitetura do trabalho: de tarefas isoladas para fluxos conectados.
O resultado?
A Adobe continuou entregando software.
A Figma construiu uma infraestrutura de governança e colaboração contínua.
PRODUTIVIDADE NÃO É O PRÊMIO, GOVERNANÇA É
Em toda disrupção tecnológica — seja a nuvem, as plataformas ou agora a IA —, o valor migra da execução para a coordenação.Ferramentas que aceleram indivíduos se tornam rapidamente commodities. Sistemas que garantem consistência, controle e coerência organizacional escalam valor de forma invisível — e duradoura.
É o mesmo deslocamento que vemos hoje na IA:
Outro paradoxo incômodo: a experiência pode ser uma forma de cegueira. Quanto mais profundo o domínio de um modelo mental antigo, mais difícil é desaprender.
Empresas com as melhores práticas operacionais, como Yahoo e Adobe, tornaram-se lentas não por inércia, mas por excelência no jogo errado. A habilidade escassa, muitas vezes, é o desaprendizado intencional.
A IA está produzindo o mesmo fenômeno nas carreiras: o domínio técnico é importante, mas o diferencial passa a ser a capacidade de recombinar saberes, coordenar fluxos e assumir riscos onde ainda há falhas de governança.
O ERRO DAS EMPRESAS EM 2025
Grande parte das corporações que “adotam IA” na verdade replicam velhas arquiteturas com ferramentas novas. Automatizam sem repensar o fluxo, substituem humanos sem redesenhar interfaces e criam dashboards sem questionar a lógica por trás dos indicadores.
A transformação verdadeira não está em usar IA, mas em redefinir a unidade de trabalho, o ponto de controle e o locus do valor.
Perguntas que toda empresa deveria fazer hoje:
Essas perguntas expõem o que separa os inovadores de quem apenas parece inovar.
O verdadeiro desafio da era da IA não é correr mais, mas imaginar diferente. Startups não vencem porque são rápidas, mas porque são livres para redefinir a unidade atômica de valor. As corporações que compreenderem essa virada deixarão de ser “lentas” — não por acelerar, mas por mudar o tabuleiro.
A disrupção não está em correr mais rápido, mas em mudar o mapa.
Produtividade sem nova arquitetura é movimento sem direção. Expertise sem desaprendizado é competência sem futuro. IA sem redesenho estrutural é apenas automação do passado.
O jogo mudou – agora, o que define o vencedor não é quem executa melhor, mas quem redesenha as regras de execução.
REFERÊNCIA:
Fonte: SCInova / Por Eduardo Barbosa, CEO da Brognoli Imóveis e um dos responsáveis pelo Conselho Mudando o Jogo (CMJ) em SC e RS. Escreve sobre inteligência artificial no ambiente corporativo na série “Diários de IA”
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