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[OPINIÃO] Confiança: elemento-chave para a inovação aberta

Inovar de forma fechada e individual é significativamente mais caro, lento e arriscado, pois a empresa absorve sozinha todos os investimentos, recursos e riscos.
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Foto: Mimi Thian (Unsplash)

O conhecimento útil hoje é amplamente distribuído e nenhuma empresa, por mais capaz ou grande que seja, pode inovar efetivamente por conta própria.”
Henry Chesbrough, no artigo Everything You Need to Know About Open Innovation, publicado em 2011 na Revista Forbes.

Esta frase do criador do conceito de Inovação Aberta, Henry Chesbrough, traz uma realidade: com a globalização, não apenas as mercadorias, mas também os serviços e os conhecimentos, passaram a trafegar rapidamente em todo o mundo. Assim, cada vez mais pessoas e organizações, em todos os lugares, passaram a ter a capacidade de absorver conhecimentos úteis para o desenvolvimento de inovações.

Ao mesmo tempo, a competitividade entre as empresas também alcançou níveis globais. Qualquer empresa, em qualquer lugar, tem concorrentes em todo o mundo. Isso também vale para outros tipos de organizações, incluindo aquelas do setor público, pois a concorrência pela atração de empresas e investimentos também é mundial, entre cidades, estados ou países.

Diante desse cenário, o sucesso e até mesmo a sobrevivência das organizações dependem da sua capacidade de desenvolver elementos que proporcionem equivalência ou vantagens sobre seus concorrentes, a partir do conceito de “vantagem competitiva” apresentado por Michael em 1985 no livro “The Competitive Advantage: Creating and Sustaining Superior Performance”.

Atualmente, um dos principais caminhos para o desenvolvimento da vantagem competitiva das organizações é por meio do desenvolvimento de um produto (bem ou serviço) novo ou significativamente melhorado, ou um processo, ou um novo método de marketing, ou um novo método organizacional nas práticas de negócios, na organização do local de trabalho ou nas relações externas. Não por acaso, esta é a definição de inovação presente no Manual de Oslo, uma das principais fontes sobre o tema.

Dessa forma, pode-se concluir que, na atualidade, todas as organizações precisam inovar e, para realizar isso na velocidade que o ambiente globalizado exige, precisam ampliar ao máximo as frentes de trabalho. Para que isso aconteça é necessário formar redes, estabelecendo parcerias para desenvolver diferentes inovações, para os diversos desafios da empresa, ao mesmo tempo.

Como já foi destacado nesta coluna, inovação aberta vai muito além de apenas buscar soluções de startups em fase de operação no mercado, pois é necessário ter atuação em todas as fases do empreendedorismo inovador, desde a identificação de desafios com o consequente estímulo ao desenvolvimento de ideias de soluções inovadoras (ideação), até o investimento para o crescimento no volume de negócios e na participação em mercados de inovações bem-sucedidas (tração).

Uma questão chave precisa ser considerada para a formação das redes necessárias para o desenvolvimento de inovação aberta: Confiança. Este é um assunto bastante subjetivo e, por vezes, polêmico. O fato é que estabelecer modelos para o desenvolvimento de relações confiáveis precisa considerar fatores organizacionais, mas principalmente sociais, pois no dia-a-dia o relacionamento acontece entre pessoas.

Nesse contexto, primeiramente deve-se buscar o desenvolvimento de ambientes propícios para o desenvolvimento de relações baseadas na confiança mútua, onde os participantes se sintam à vontade para desenvolver redes profissionais para o desenvolvimento de empreendimentos inovadores. Por mais que existam mecanismos jurídicos como os Termos de Confidencialidade, o princípio da confiança deve ser o mais importante, para que as cláusulas penais desses instrumentos não precisem ser utilizadas.

O primeiro passo, portanto, deve ser na direção de reduzir ao máximo os “ego-sistemas” existentes em um território e que são inibidores naturais da confiança mútua. 

Organizações que trabalham estratégias que priorizam a inovação fechada, estabelecendo barreiras para o estabelecimento de parcerias – especialmente aquelas de cunho burocrático ou jurídico -, e o excesso de individualismo empresarial visando a dominação de mercados com o estímulo à rivalidade, estimulam esse tipo de ambiente, onde a desconfiança predomina. O modelo a seguir, sugerido no recente artigo “From ego-systems to open innovation ecosystems: A process model of inter-firm openness”, escrito por Alam, Rooney e Taylor em 2022:

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Modelo ilustrativo da atuação de organizações de forma ‘ego-sistêmica’, segundo Alam, Rooney e Taylor (2022)

Empresas que trabalham de forma egocêntrica e fechada normalmente têm agendas próprias sigilosas, restritas apenas aos seus próprios dirigentes e empregados, que por natureza criam desconfianças em potenciais novos parceiros. Isso também tem o potencial de gerar um ‘boca a boca’ negativo, especialmente a partir de pessoas que não tiveram boas experiências em trabalhar com uma organização egocêntrica. Apesar de ser algo muito difícil de medir, pois esses testemunhos normalmente não são feitos de forma aberta, quanto mais pessoas forem alcançadas por esse tipo de declaração maior pode ser o dano à reputação da organização perante o seu ecossistema local de inovação, tornando mais difícil o desenvolvimento de redes para a inovação aberta.

Apesar de algumas dessas empresa ainda colherem resultados positivos com a atuação ego-sistêmica, é cada vez difícil estabelecer um desenvolvimento no longo prazo, pois o custo de inovações torna-se cada vez maior, uma vez que território ao redor dessas empresas se torna resistente à formação de redes de parcerias para a inovação. Inovar de forma fechada/individual é significativamente mais caro, lento e arriscado, pois a empresa absorve sozinha todos os investimentos, recursos e riscos da inovação.

Para estabelecer um ambiente mais favorável para a inovação, ecossistêmico, é fundamental que cada vez mais organizações adotem posturas abertas, considerando práticas que favoreçam o desenvolvimento de relações de confiança com outras empresas, o que naturalmente se estende às pessoas, sejam representantes de suas respectivas organizações, ou independentes.

Para tanto, devem trabalhar de forma transparente, colaborativa, buscando compartilhar tanto seus desafios de inovação quanto os trabalhos para a criação de soluções inovadoras, juntamente com os respectivos recursos e investimentos necessários para o seu desenvolvimento. Também é necessário adotar estratégias e táticas para a gestão de riscos, que são inerentes à atividade empresarial como um todo, mas especialmente importantes na busca de vantagens competitivas por meio da inovação aberta.

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Modelo ilustrativo da atuação de organizações de forma ecossistêmica, favorável à inovação aberta, segundo Alam, Rooney e Taylor (2022)

COMO DEIXAR O EGO PARA TRÁS

Claramente essa mudança ‘ego-sistêmica’ para ecossistêmica não é rápida nem tampouco fácil. Exige uma série de ações para mudar a mentalidade interna das equipes, com impactos na cultura organizacional, com as lideranças exercendo um papel fundamental no reforço diário das mudanças necessárias. Dessa forma, as estratégias e táticas da organização precisam ser traduzidas em ações concretas para promover uma efetiva abertura para o desenvolvimento de parcerias, com processos para estimular a formação de redes, bem como selecionar potenciais parceiros, iniciar os trabalhos e fortalecer as relações com aqueles que tiverem interesses e desempenho convergentes.

Tal trabalho deve resultar em parcerias equilibradas, com resultados positivos traduzidos na forma de inovações úteis e bem-sucedidas, provocando o reforço competitivo para todos os envolvidos. Tal sucesso também será traduzido no ‘boca a boca’, desta vez positivo, tornando a organização mais atrativa para parcerias e, assim, ela passa a naturalmente ser citada como referência positiva e cada vez mais procurada para o desenvolvimento de inovações.

O fato é que esse trabalho de mudança, para tornar as empresas mais robustas e competitivas, é atualmente imprescindível para todas as organizações. Pois, como também disse Chesbrough:

A maioria das inovações falha. E as empresas que não inovam morrem.

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