Cerca de 70 mil famílias catarinenses acordam cedo para garantir o leite do café da manhã dos brasileiros. Juntas elas produziram, em 2021, 3,1 bilhões de litros de leite, respondendo por 8,9% da produção nacional. Mas para a Epagri, a pecuária leiteira é bem mais que uma cadeia produtiva: é um instrumento para melhorar a renda e elevar a qualidade de vida em Santa Catarina, mantendo as famílias no campo.
A fórmula que está por trás disso é o sistema de produção à base de pasto. Esse modelo, que utiliza as pastagens perenes de verão como principal fonte de alimentação dos animais, é a forma mais barata, competitiva e ecologicamente correta de produzir leite no Sul do Brasil. Ela reduz os riscos econômicos para o produtor, pois é menos dependente de insumos externos, como a ração, e é ecologicamente sustentável. Para o consumidor, a adoção de Boas Práticas de Produção garante um alimento seguro e de qualidade.
É com essa estratégia que os agricultores e extensionistas protagonizam um processo de melhoria da qualidade de vida no campo em Santa Catarina. A Epagri conta com 170 Unidades de Referência Técnica (URTs) de pecuária leiteira instaladas no estado, que são propriedades modelo que adotam as tecnologias e recebem acompanhamento técnico e econômico. Entre 2015 e 2022, a produtividade média nas URTs saltou de 4,7 mil para 5,3 mil litros de leite por vaca. Cada hectare de pastagem, que rendia 11,7 mil litros de leite por ano, passou render 14,3 mil litros. Algumas famílias chegam a alcançar 18 mil litros de leite por hectare.
Dentro da propriedade, as mudanças começam com o planejamento forrageiro e a introdução de pastagens perenes, que combinam alta produtividade, bom valor nutritivo, longo ciclo produtivo e maior tolerância ao estresse hídrico. A área de pastejo é dividida em piquetes para que o rebanho faça um rodízio e tenha sempre pasto novo e abundante à disposição. A família ainda garante a distribuição de água nos piquetes e planta árvores para oferecer sombra e bem-estar aos animais.
Em seguida, entram melhorias na infraestrutura de manejo, como sala de ordenha, sala de alimentação, sistema de criação de bezerras, além de máquinas e equipamentos que facilitam a mão-de-obra e agilizam a produção. Para esses investimentos, geralmente são utilizados recursos de políticas públicas que os extensionistas da Epagri ajudam a família a acessar.
as. Em Santa Catarina, até a última semana de junho, cerca de 56% da área estimada para o plantio de trigo na safra 2023/2024 já havia sido semeada. Na comparação com a safra passada, as estimativas da Epagri/Cepa apontam para uma redução de 2% na área plantada e no volume de produção.
O trabalho se profissionaliza: os dados do sistema produtivo são lançados em uma planilha que analisa os indicadores técnicos e econômicos da propriedade. Assim, é possível acompanhar a evolução da atividade e realizar ajustes, buscando reduzir custos e aumentar a produção de leite por área.
Com a estruturação do trabalho, a propriedade se transforma em uma Unidade de Referência Técnica da Epagri e passa a servir de modelo para agricultores da região. A família compartilha sua história e passa o conhecimento adiante. Nas URTs são realizados cursos, dias de campo, oficinas e reuniões para que os participantes vejam, na prática, que vale a pena adotar esse sistema.
Entre 2015 e 2022, o faturamento líquido das URTs de leite acompanhadas pela Epagri saltou de R$2.695 para R$7.182 por hectare. Isso impacta diretamente na renda e na qualidade de vida das famílias rurais em Santa Catarina. A vontade de desistir da agricultura e sair da propriedade se transforma em uma visão de futuro cada vez mais clara, com metas atingíveis.
A Epagri também ajuda na lição de casa, incentivando a produção de alimentos para consumo da família, a melhoria dos arredores da propriedade, a preservação ambiental e o acesso a água de qualidade. Na área social, a família se envolve em eventos e os jovens participam de cursos oferecidos pela empresa.
Com dinheiro no bolso e uma vida confortável, as famílias conseguem realizar sonhos, cumprir seus compromissos financeiros, reformar a casa, comprar um carro, viajar e investir em seu bem-estar. Muitos jovens decidem ficar e dão continuidade ao negócio lucrativo em que a propriedade se transformou.
Em 2016, a família Lovatto, de São Lourenço do Oeste, procurou a Epagri como última esperança para salvar a produção de leite. A atividade não era rentável, a família acumulava dívidas e não conseguia mais se sustentar. Larissa queria que o filho Anderson – na época com 17 anos e apaixonado pelo meio rural – deixasse tudo para trás e fosse em busca de um emprego na cidade. “Qual é a mãe que quer ver o filho ficar na roça sofrendo? ”, diz a agricultora.
O sistema da propriedade era baseado em silagem de milho, pastagens anuais e alimentos concentrados, o que aumentava muito os custos de produção. “A principal dificuldade era como se produzia. A gente fazia 4 a 5 hectares de silagem por ano e a produção era sempre na faixa de 5 a 6 mil litros de leite por mês – na época não era tão baixa, mas o custo era muito alto. Ração, também, a gente usava demais”, conta Anderson.
Depois de conhecer o sistema da Epagri, a família fez o planejamento forrageiro e implantou pastagens perenes de verão, com mudas de capim-pioneiro, missioneira-gigante, grama jiggs e tífton 85. “Os técnicos começaram a dar assistência e a gente começou a ir muito bem. O capim-pioneiro foi o que matou a fome dos animais. Depois disso, nunca mais faltou pasto na nossa propriedade”, conta Larissa.
As pastagens ainda foram ampliadas e melhoradas, a família garantiu água e sombra para os animais e cuidou da fertilidade do solo. Os indicadores técnicos e econômicos passaram a ser acompanhados, para aprimorar o resultado.
A Epagri também foi parceira na elaboração dos planos de crédito que permitiram à família acessar políticas públicas para melhorar a produção. A mão de obra foi humanizada, com a construção de uma sala de ordenha com aquecimento solar de água, e também foram adquiridos insumos e máquinas. Somando todos os projetos, o benefício à propriedade alcança R$115 mil em recursos aportados via políticas públicas. “Antes, a ordenha era feita por duas ou três pessoas. Agora que temos a sala com os equipamentos, uma pessoa dá conta sozinha”, diz Larissa.
O resultado surpreendeu a família: os custos de produção caíram, a produção de leite aumentou e os Lovatto saíram do prejuízo para um crescimento substancial na renda. Em 2022, com 15 hectares de cultivo e 23 vacas lactantes, foram comercializados 169 mil litros de leite – um aumento de cerca 100 mil litros em relação à situação anterior. “A gente só tem a agradecer, porque se não fosse pela Epagri, acredito que não estaríamos mais na produção”, diz Anderson.
A margem líquida da atividade, que era negativa em 2019, chegou a R$8,9 mil por hectare/ano em 2022. “Nunca tivemos uma vida tão boa como agora. A gente conseguiu adquirir um carro, fazer uma casa para o filho e a nora e trazer um pouco de conforto, porque antes estava muito precário”, comemora Larissa.
Mais do que renda, a ação da Epagri levou qualidade de vida e um futuro para a família, evitando a saída dos jovens da propriedade. “A Epagri incentiva muito os jovens a ficarem e dá suporte. Acredito que talvez nosso filho Bernardo também vá querer ficar na roça trabalhando com a gente”, diz Bruna, esposa de Anderson.
Fonte: Epagri
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