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Relações internacionais: principais eventos de 16 a 29 de junho de 2024

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Relações internacionais: principais eventos de 16 a 29 de junho de 2024

As relacoes internacionais de 16 a 29 de junho de 2024

Vladimir Putin visita Coréia do Norte

Na terça-feira, 18 de junho, o presidente russo Vladimir Putin desembarca em Pyongyang para uma visita oficial de dois dias. É a primeira visita ao país em 24 anos. É imprescindível notar que tanto a Rússia quanto a Coréia do Norte encontram-se em isolamento internacional. De um lado Moscou, devido à invasão da Criméia em 2014 e a recente invasão da Ucrânia em 2022, e de outro Pyongyang, pelo programa de armas nucleares impostas após seu primeiro teste em 2006.

O resultado do encontro foi a assinatura de um pacto de cooperação militar e um acordo de proteção mútuo, em caso de ataque de um terceiro país. É uma resposta clara aos Estados Unidos e a Europa, que vêm expandindo a assistência militar à Ucrânia. Recentemente Kiev recebeu a autorização de Washington para usar armas norte-americanas e podendo assim atingir a Rússia em qualquer lugar, ato esse que fez com que os russos desaprovassem.

Ademais, a ida do líder russo serve como um recado aos países do Ocidente, mostrando que ambos os líderes não estão tão isolados assim, além de buscarem apoio econômico mútuo, já que ambos os países sofrem pelas sanções internacionais. A aproximação é um bom negócio para ambos, dado que a Coréia do Norte tem interesse na tecnologia para satélites, e em troca, a Rússia precisa dos armamentos norte-coreanos para continuar o conflito contra Kiev.

Porém, não é somente o Ocidente que vê com atenção e preocupação essa convergência, cujo temor é de uma escalada no conflito. A própria China, parceira de ambos está incomodada com a situação. Cabe aguardar se haverá uma fricção com os chineses, que nesse momento querem qualquer coisa menos um novo conflito que possa impactar suas ambições estratégicas e econômicas globais.

Malásia prepara a adesão ao BRICS

O BRICS é um grupo formado por países com economias em desenvolvimento, não constituindo um bloco econômico nem uma organização internacional. Originada em 2006 com Brasil, Rússia, índia e China, o grupo aceitou a África do Sul em 2010, e recentemente expandiu seus membros em 2024 com a entrada de Arábia Saudita, Egito, Emirados Árabes Unidos, Etiópia e Irã.

Compreendendo cerca de 42% da população mundial e 23% do PIB global, o BRICS tem como propósito reequilibrar o poder econômico do mundo, buscando acumular força e protagonismo no cenário político e econômico internacional. Além disso, os países membros buscam incentivar a cooperação mútua e posicionarem-se contrapondo à soberania dos países desenvolvidos nos fóruns multilaterais, como as Nações Unidas por exemplo.

A Malásia é um país do Sudeste Asiático com 330.803 km², cuja população de 34 milhões é composta por malaios (69,7%), chineses (22,9%) e indianos (6,6%). Essa nação multiétnica com maioria muçulmana, testemunhou nas últimas décadas uma economia que até então era baseada em matérias-primas (borracha e óleo de palma), para a exploração de petróleo e produção de produtos elétricos e eletrônicos competitivos.

Recentemente o Primeiro-Ministro malaio Anwar Ibrahim, em uma declaração à um canal de mídia chinês Guancha, indicou o interesse do país em integrar o BRICS. Segundo ele, os procedimentos formais para a adesão estão prestes a começarem e aguardam apenas a aprovação do governo sul-africano, membro do grupo para dar prosseguimento.

Dotada de um crescimento econômico de 3,7% em 2023, os malaios buscam diversificar parceiros e atrair investimentos, cuja adesão poderia abrir um leque de oportunidades desde acesso à mercados e influência em decisões econômicas mundiais.

Para o grupo a adesão malaia é de grande importância geopolítica. Primeiramente é onde se encontra o Estreito de Malaca, uma das principais passagens entre os oceanos Índico e Pacífico. Esse local é considerado uma das rotas marítimas mais importantes e movimentadas do planeta, cuja dependência chinesa é vital para escoar seus produtos para a Europa e demais regiões.

Outrossim o que chama a atenção é o papel do país na cadeia global de chips (semicondutores). Atualmente é considerada o 6º maior exportador de semicondutores mundiais, cuja presença de empresas multinacionais aumenta ainda mais. A Intel e Infineon por exemplo investiram U$ 7 bilhões cada, além da líder mundial em chips que alimentam a Inteligência Artificial, Nvidia, que está desenvolvendo junto ao governo de Kuala Lumpur um centro de supercomputadores e nuvem de IA, de cerca de U$ 4,3 bilhões.

Um dos líderes do BRICS, a China, busca trazer o país mais para perto de si, haja vista que os malaios mantêm boas relações, inclusive militares, com potencias ocidentais. A adesão ao BRICS é importante para o grupo, que ganharia um parceiro estratégico com vantagens geográficas e econômicas, contribuindo ainda mais no rearranjo das forças econômicas em contraponto às economias ocidentais, não remodelando apenas as relações internacionais asiáticas, mas no mundo todo.

Protestos e tumultos no Quênia

William Ruto foi eleito presidente em setembro de 2022 com 50,49% dos votos, contra Raila Odinga, 48,85%, mostrando que foi uma eleição bem apertada. O líder sempre buscou uma aproximação com economias fortes em busca de investimentos, como o recente (23 de maio 2024) encontro com Joe Biden nos Estados Unidos. No cenário internacional, demonstra uma imagem confiável ao Ocidente, como o posicionamento contra a invasão russa à Ucrânia, o envio de tropas quenianas à República Democrática do Congo e ao Haiti, e foi sede da Cimeira Africana sobre o Clima em Nairóbi.

Porém, no campo interno, o presidente que fora eleito com promessas populistas e cuja campanha retratou-se como o defensor dos desfavorecidos, vem atuando com medidas impopulares. Dentre essas, retirou subsídios ao combustível e à farinha de milho, este, alimento básico na região.

Essas medidas, somadas à apresentação do projeto de orçamento 2024/2025, que previa a instituição de novos impostos, desencadeou uma onda de protestos e manifestações pelo país. Na última terça-feira, 25, durante a terceira manifestação em oito dias, os manifestantes invadiram e atearam fogo no Parlamento, desencadeando uma forte repressão policial. O resultado da ação policial e a ajuda do exército foram mais de 30 feridos e 6 mortos, cuja presença de Auma Obama, meia-irmã do ex-presidente norte americano Barack Obama, ajudou a dar mais visibilidade aos atos.

Pressionado, William Ruto descarta o projeto de aumento um dia após em televisão nacional chamar os manifestantes de “criminosos perigosos” e “traiçoeiros”. O Quênia possui uma das economias mais dinâmicas do Leste Africano, entretanto vem apresentando diversas manifestações nos últimos anos. Em 27/03/2023, por exemplo, houveram protestos anti-governo, convocados pelo líder oposicionista Raila Odinga, e quatro meses (12/07/2023) depois uma nova onda de protestos, levaram à prisão de mais de 300 pessoas e com 7 mortes.

O presidente queniano tem muitos desafios pela frente, tendo de lidar com o déficit público sem aumentar impostos. Segundo ele, irá fazer medidas de austeridade e corte de gastos no orçamento da presidência, porém o FMI diz que enquanto não diminuir o déficit fiscal, não será mais liberado novos empréstimos

Parece que a instabilidade vai perdurar no Leste da África, região essa já marcada pelas tensões na Somália, na Etiópia, e a crescente tensão envolvendo o presidente de Ruanda, Paul Kagame, e a República Democrática do Congo.

General e militares se mobilizam contra o presidente Luis Arce na Bolívia

Luis Arce foi eleito presidente boliviano nas eleições em 2020, o qual foi apadrinhado por Evo Morales, que governou o país de 2005 à 2014. Evo foi presidente por três mandatos, e, quando venceu as eleições para o quarto mandato, sofreu pressão popular e dos militares, fazendo com que renunciara. Entretanto, com Arce no poder, os dois até então aliados, romperam laços, logo após Evo Morales anunciar que vai se candidatar às eleições de 2025

Na última segunda-feira, 24 de junho, o general Juan José Zúñiga, Comandante Geral do Governo, em uma entrevista à um canal local, diz que estaria disposto a prender Evo Morales caso tentasse se candidatar novamente.  Essa atitude levou o presidente Arce a exonerar o general um dia depois da declaração, alegando que militares não deveriam se intrometer na política.

Porém, destituído do cargo, na tarde de quarta-feira, 26, o General se mobilizou juntamente com outros militares e usando inclusive tanques de guerra, cercaram e invadiram o Palacio Quemado, popular da sede do governo da Bolívia, localizado na Praça Murillo, em La Paz. Em um bate-boca frente a frente, Arce e Zúñiga desbravaram algumas falas supervisionadas, que caíram nas redes sociais e meios televisivos logo após o ocorrido.                   

Os fatos que merecem destaque, foram o respaldo que Arce recebeu assim que denunciaram como um golpe militar, e a fala de Zúñiga alegando que o presidente o procurara dias antes e pedira algo para aumentar a sua popularidade, configurando um auto-golpe. Embora seja cedo ainda para saber o desenrolar, é importante que seja feito algum tipo de investigação para o caso, independente dos envolvidos. Cabe citar que Zúñiga fora preso e pode pegar até 20 anos de prisão, salientando que mais 20 pessoas foram detidas, dentre elas todos os três ex-comandantes militares.

Contrariamente ao que fora denunciado pela imprensa, inclusive brasileira, tudo leva a crer que a mobilização não tem a ver com as reservas minerais do país. Dotada de cerca de 23 milhões de toneladas de lítio (mineral usado em baterias de smartphones, laptops e veículos elétricos), a Bolívia é um dos maiores produtores do mineral, atrás de Chile e Argentina. Todavia, a importância geopolítica insere um novo modo de inserção internacional do país, despertando ambições políticas e exigindo muita atenção nos próximos anos.

O ato no país vizinho preocupa o Brasil, tanto pela questão fronteiriça quanto por ser fornecedora de gás natural. Ademais, vivem na região cerca de 16 000 brasileiros, compostos em sua maioria por estudantes e empresários no agro local.  Uma instabilidade não interessa nem ao Brasil nem à região, que recentemente aprovou a entrada da Bolívia no bloco do Mercosul. Cabe lembrar que há inclusive uma cláusula interna do bloco exigindo que o país-membro seja uma democracia.

Embora seja demasiadamente cedo para verificar as intenções e origens do falhado golpe, mas parece haver mais relação à uma quartelada de um general descontente do que propriamente uma ligação com as minas de lítio.

O debate presidencial nos Estados Unidos entre Trump e Biden

Na quinta-feira, 27, na sede do canal CNN em Atlanta, nos Estados Unidos, fora feito o primeiro debate de candidatos presidenciais. Pela primeira vez na história do país, dois presidentes, o anterior e o atual, se enfrentam em uma discussão deste tipo. De um lado Donald Trump, representante dos Republicanos e presidente de 2017 à 2021, e Joe Biden, atual presidente desde 2021.

O sistema eleitoral brasileiro, cada cidadão tem direito a um voto, e o candidato eleito é aquele que obtiver o maior número de votos. Porém, na terra do Tio Sam o voto é indireto, diferenciando do nosso modelo. Cada Estado tem um número de delegados, correspondendo ao número de habitantes. Sendo assim quanto mais populoso o Estado, maior o número de delegados. Assim, é constituído o Colégio Eleitoral estadual, que deve ter, no mínimo, 3 delegados. Para ser eleito, o candidato deve ter o voto de 50% mais um dos delegados (271). Por mais que o candidato tenha votos populares, o mais importante é ter votos do Colégio Eleitoral, pois é ele que escolhe o novo Presidente.

Os Estados Unidos, assim como no Brasil, também são caracterizados pela polarização política. Tanto os eleitores democratas e republicanos dificilmente vão mudar de lado. O fato de o sistema ser diferente, segundo os analistas, a eleição vai decidida por alguns milhões de mulheres de cerca de 6 Estados-pêndulos. É, portanto, imprescindível que os candidatos destaquem suas plataformas e consigam os votos desses indecisos, que possem três assuntos imprescindíveis: economia(inflação), aborto e imigração.

No debate o tema economia foi marcado por um jogo de empurra, cujos candidatos não deixaram claro seus planos e nem contribuíram em como o desafio econômico pode ser superado. Sendo assim Trump culpava a Covid e os gastos que foram necessários na época, e Biden retribuía alegando que já recebera uma economia ruim e com problemas.

O segundo tema, aborto, o candidato republicano tentou não entrar muito no assunto, tema esse sensível entre seus correlegionários. Sendo assim disse que cada Estado deveria decidir sobre isso. Já Biden não explorou esse tema que é favorável ao seu partido, citando que apoia uma lei federal do aborto, e que isso seria uma relação entre médico e mulher, não de estados ou juristas como defende o opositor.

Já o debate sobre imigração favoreceu o candidato Donald Trump. Por diversas vezes incluindo em outros temas, citava que os Estados Unidos tinham uma fronteira mais segura e que a Biden era o culpado pela entrada de todo tipo de gente, dentre eles terroristas. Já o candidato democrata disse que aumentou sua proteção na fronteira e que buscara um acordo bipartidário para enfrentar esse problema.

Apesar dos três assuntos serem de suma importância para angariar os votos dos indecisos, a política externa foi um tema levantado pelos ancoras responsáveis pelo debate. Donald Trump acusou o antagonista como fraco em matéria de política externa, e citou o volumoso valor dado a Volodymyr Zelensky, líder ucraniano, para lutar contra a Rússia. Ademais, cabe citar que Trump defendeu que o conflito não é somente responsabilidade dos Estados Unidos, cabendo à Europa também colocar mais dinheiro. Já Biden decorre sobre o plano proposto por ele para a paz entre Hamas e Israel, assim como alertara que Putin não irá parar de avançar, vinculando a necessidade de estar em ajuda com os demais membros da OTAN.

O debate embora realizado meses antes do dia da eleição (5 de novembro) e das convenções partidárias, serviu como uma forma de ambos os partidos checarem seus candidatos. Levando em consideração o acontecimento, os Republicanos viram um Donald Trump mais contido e calmo do que no passado, porém com a necessidade de se preparar melhor quando o tema for a questão do Capitólio. Já os democratas viram com muita preocupação a performance de um Joe Biden com pouca energia, confuso em alguns momentos e que por diversas vezes devolvia a sua vez com bastante tempo de sobra.  Muitos especulam se realmente não é o momento de trocar o candidato democrata, haja vista que por diversas vezes o então presidente mostrou-se despreparado para o cargo. Caso o partido resolva efetuar a troca, cabe decidir quem de renome poderia substituí-lo, e, apesar de ter tempo até as eleições, será uma tarefa difícil e igualmente duvidosa assim como mantê-lo.

É cedo demais para fazer qualquer análise, porém uma coisa que ficou evidente para todos que assistiram o debate é como que a maior potência do mundo, militar e econômica, dotada de tantas universidades de renome (Harvard e Yale por exemplo), tenham dois candidatos que não representam um país que aspira maiores conexões entre os países, e que para manter seu status quo precisa a todo custo tentar frear uma China que manterá sua estratégia independente de qual dos dois for o vencedor.

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Escrito por Leonardo Dariva

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