Quem ecoa – e explica – os apontamentos dos estudos é José Eduardo Krieger, professor de Medicina Molecular na USP e diretor do Laboratório de Genética e Cardiologia Molecular do Incor (Instituto do Coração).
Uma em cada cinco pessoas que contraem o Sars-Cov-2, vírus da Covid, não adoece, segundo nova pesquisa realizada por pesquisadores da Universidade da Califórnia. O fato parece estar associado com uma variante genética que vem sendo estudada desde de 2020.
Krieger explica que nesse período ocorreu a formação de grandes consórcios ao redor do mundo para a compreensão da questão. Por isso, foram encontrados alguns endereços no genoma humano que estão sendo pesquisados.
Desde o início da pandemia, um dos pontos mais levantados acerca do tema era a tentativa de compreender os motivos de algumas pessoas expostas ao vírus da Covid-19 não terem sintomas significativos, enquanto outras adoeciam rapidamente.
Além disso, buscava-se entender os motivos para, entre pessoas que contraíam o vírus, algumas terem sintomas leves e outras graves.
Krieger explicou que a primeira questão passou a obter respostas com a investigação de pessoas que são doadoras de medula óssea. Isso porque, para a realização do transplante, é necessário que os indivíduos possuam compatibilidade entre si.
A partir desse tipo de informação, eles começaram a investigar os pacientes que apresentavam alguns sintomas. Assim, conseguiram identificar pessoas que, apesar de terem tido contato com o vírus, não tinham contato com a doença grave.
Então, os pesquisadores passaram a investigar os vários genes da região do HLA e verificaram que algumas células forneciam resistência.
“Eles começaram a perceber que isso indicava que, na realidade, uma das linhas de defesa que nós temos, que são os linfócitos T, já haviam sido treinados nos indivíduos que tinham aquela variante.”
José Eduardo Krieger, professor de Medicina Molecular na USP e diretor do Laboratório de Genética e Cardiologia Molecular do Incor (Instituto do Coração)
Ou seja, os linfócitos provavelmente já haviam sido treinados numa exposição anterior, que foi suficiente para gerar uma memória que os protegeu contra o vírus. “É uma das primeiras evidências que a gente tem de que o sistema pode ser treinado e que funciona adequadamente para evitar a manifestação da doença”, comentou Krieger.
Outro ponto importante para o tema é a influência de características sanguíneas na manifestação da doença.
Para o especialista, atualmente a nossa capacidade de identificar ou visualizar diferenças entre indivíduos é muito grande e inclui aspectos para além do material genético, como a molécula de microRNA — um tipo de RNA mensageiro que tem uma característica de controle de expressão de outros genes.
Diferentes pesquisadores compararam, portanto, a expressão dos microRNAs em pacientes que tiveram um quadro grave e em pacientes que tiveram um quadro leve, observando quais eram os transcritos controlados por essa molécula.
Como resultado, observaram que as pessoas que apresentaram um quadro mais grave tiveram o aumento da produção desses RNAs, que interferiram na produção de genes, com uma resposta particular para o vírus.
Por fim, eles tentaram compreender, em uma população, as variações genéticas que poderiam auxiliar ou inibir a produção dos microRNAs — tendo um efeito direto na reação do indivíduo à doença.
É também importante a compreensão de que entender o funcionamento da doença passa por um processo complexo, uma vez que depende não só da variabilidade do vírus, mas também do hospedeiro.
Com informações do Jornal da USP
Fonte: Olhar Digital | Pedro Borges Spadoni
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